Aprenda com os lobos: O que pode acontecer quando "força" não é acompanhada
de "caráter".
Ótima reflexão.
Por Eugenio Mussak
Conheci certa vez uma empresa em que a diretoria estava muito feliz com o
gerente do departamento que trazia os melhores resultados. Passado algum
tempo, ao visitar a empresa, fiquei sabendo que ele havia sido demitido.
Fiquei surpreso, mas depois entendi, pois o motivo não tinha a ver com os
resultados financeiros. Nisso ele era bom. Já sua conduta ética... Houve um
choque com os valores da organização. E para as empresas já não interessa
mais apenas "resultado", e sim "resultado sustentável". É uma questão de
sobrevivência de longo prazo.
Sustentabilidade significa que o sucesso de hoje não compromete o sucesso
de amanhã. Atitudes antiéticas vão contra esse princípio. Para entender a
posição dos líderes diante dessa realidade, podemos olhar o que acontece
com alguns animais. Você já reparou que um cachorrinho quando leva uma
bronca do dono costuma deitar de barriga para cima, o que gera uma imediata
simpatia pelo danadinho? Ele faz isso porque reconhece a força de seu
"oponente" e simplesmente não quer brigar, pede paz, se rende. Pois é, essa
é mais uma herança do ancestral do cãozinho -- o lobo.
Quando dois lobos disputam a liderança de uma matilha partem para o
confronto físico até que um deles, derrotado, deita de costas no chão. É aí
que reside a beleza dessa história: o outro lobo interrompe o ataque,
deixando o vencido em paz, pois a intenção não é ferir ou matar o oponente,
mas, apenas, vencê-lo na disputa pelo poder. Mas, veja só, se o lobo
vencedor continuar a atacar o vencido, ele será rechaçado pelos demais,
podendo até ser atacado pela matilha que iria liderar. Sem ter compaixão
pelo vencido, ele demonstra fraqueza de caráter. Tem de mostrar respeito
pelo vencido. Uau, ponto para os lobos!
Entre os humanos, demonstrações de caráter às vezes não são cobradas dos
líderes, desde que eles entreguem resultados para a empresa. Se os números
estiverem bons é porque a liderança está funcionando -- dizem por aí. Esse
raciocínio não está "errado", pois mesmo os liderados se sentem bem quando
os resultados são bons. Mas, cuidado. Ultimamente, "resultado" é diferente
de "resultado a qualquer custo", pois este não garante o "resultado
sustentável". Isso é importante porque a matilha, cedo ou tarde, vai se
amotinar e negar a autoridade do tal líder sem caráter. Aí os resultados
começarão a minguar.
Um líder de verdade carrega consigo um certo espírito de nobreza, capaz de
angariar o respeito até dos adversários. Assim constrói a tal
sustentabilidade. Se não for deste modo, vamos acabar dando razão ao
empirista Thomas Hobbes, que disse que neste mundo estamos todos contra
todos e que o verdadeiro lobo do homem é o próprio homem. Não precisa ser
assim e, por ironia, podemos aprender com o próprio lobo!
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