sexta-feira, junho 13

Crônicas da Cidade nº 48

Por Nerval Pires da Silva


O progresso de uma cidade está intrinsecamente ligado à conduta dos seus cidadãos. A eles tudo se relaciona e inter-relacionam. Colbert já dizia mais ou menos assim, que "a grandeza de um município não depende necessariamente do tamanho de seu território, mas sim do caráter do seu povo." Entenderam? Na ausência desse atributo, fatalmente ocorre aquilo que mais temíamos – o trágico – que é o retrocesso global no seu desenvolvimento, quer no campo social, político, administrativo, cultural ou econômico.

Porém, só as pouquíssimas mentes mais arejadas é que percebem a falência deste povo em toda a sua plenitude, que trouxe como corolário a desordem administrativa; na proliferação da marginalidade; da prostituição infantil e da adolescência, e o que é pior – da propagação das drogas em ritmo preocupante e amedrontador! O emporcalhamento de suas praças, ruas e avenidas; a perda da auto-estima, este – componente imprescindível no caráter de todos nós. A falta de trabalho, de perspectiva de futuro para eles e para esses pobres jovens que estão aí a se trombar pelas ruas sem ter onde trabalhar – e com o agravante – a falta de discernimento do que é bom e o que é ruim tanto para eles como para a cidade em que vivem – atrelados que estão ao desuso à prática da cidadania, esta, obrigação precípua de um cidadão cônscio de sua responsabilidade. Como conseqüência, tivemos que engolir o desabafo desse médico oculista da capital a uma jovem cliente antoninense, e outros e outros tantos que já se manifestaram também sobre esse assunto, em linguagem embora mais amena, mas dotada de uma precisão impressionante. Esta é, pois, a visão panorâmica de uma Antonina vista de norte a sul do estado, de uma cidade sem governo e de um povo decadente, conivente com a degenerescência que aqui se propaga, que aceita como se fosse tudo absolutamente normal. Admite-se errar, mas persistir no mesmo erro é sinônimo de burrice, e esse povo tem dado ao longo desses anos essa demonstração de tendência. Um povo que se encontra nesse estado psicológico, não deveria votar, por que se votar, fatalmente vai cometer mais outro desatino contra a cidade, e contra aqueles que nada tem a haver com este seu estado de falta de lucidez. Deveriam sim, nesse estado de comportamento psicológico que se encontram, ficar longe das urnas e deixar somente àqueles de visão mais lúcida, fazê-lo por eles, até a completa regeneração do seu estado normal, e estes, de aproveitar e votar num projeto de transformar tudo isso que está ai – inclusive, de gestionar incontinente, um plano para mudar esse povo e eleger outro. Olha que eu já vi povinho ruim de discernimento, mas como esse eu estou pra ver. Senão vejamos: povo que quer ressuscitar as múmias do passado para se vingar do presente, é povo que não merece respeito. Enquanto isso a cachorrada vadia coabitam às ruas da cidade a promover a maior algazarra e sujeira, copulando na frente de todos em período de cio, mostrando um quadro deprimente, estarrecedor, nojento até – e eles a contemplar na maior placidez, e se alguém por ventura faz qualquer coisa para coibir isso, seus pseudo-donos ou os condoídos transeuntes, saltam ferozes contra estes, como se aqueles animais fossem mais importante que o ser humano. Chegou-se a uma inversão de valores que beira as raias da insanidade. Ai, que saudades do meu pai e dos antoninenses do passado, de uma sociedade tão bem centrada que era, quanto à classe sindical dos anos 60/70. É por essa e outras razões que o sindicalismo está desaparecendo a olhos visto dado a flagrante inércia de alguns dos seus líderes e/ou liderados, que fazem vistas grossas à ação de desmonte perpetrada pelos nossos algozes no seu único meio de subsistência que é o porto, e completamente apáticos, assistem lhes roubarem a sua única condição de trabalho como se fosse tudo normal tal como a invernada que segue passivamente ao matadouro. Toda hora fico a me perguntar: que povo é esse que deixa a sua cidade chegar a esse extremo, sem demonstrar nenhuma reação si quer? Será que povo assim ainda merece viver?

E, enquanto a maioria desse povo continua na sua obstinada insanidade, praticando a maior porquice com a mais importante arma que a democracia lhe deu – o voto, usando-o como moeda de troca de favores de momento, de interesses escusos e até para saciar vinganças pessoais, a nossa rica querida e sofrida Antonina e parte da sociedade que não tem nada a ver com essa sujeirada, padece mais quatro anos, regride e empobrece, em quanto as nossas cidades vizinhas ao contrário, crescem e se fortalecem; passam a nossa frente e tiram com toda a razão do mundo o maior sarro deste povo indolente e sem brio que é o nosso.

Se querem ressuscitar as múmias do passado, tudo bem, três de outubro está aí bem próximo, ressuscitem, abram os sarcófagos! – vocês são maioria mesmo, vocês mesmo se merecem...

Nerval é escritor e comentarista.

E-mail: nervalpiresdasilva@hotmail.com

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