Por: Jefferson Picanço
UM CERTO 6 DE NOVEMBRO DE 1797...
Estar deitado à beira do mar, apesar de parecer, não é fácil.
A antiga freguesia de N.S. do Pilar da Graciosa lutava para ir à missa, lutava para poder comerciar com o planalto, lutava contra a câmara de Paranaguá, que sempre via aquele fundo de baÍa como ameaça. Afinal, um porto ali, naqueles grotões, com a abertura do caminho do curitibaÍva (em tupi literalmente “o caminho de Curitiba”) poderia tornar obsoleto seu próprio porto. Essa sempre foi a tônica das discussões entre as duas comunidades: os caminhos, o porto, o comercio.
A luta pela reabertura da Estrada da Graciosa foi longa. Segundo Ermelino de Leão, nosso grande cronista, contra a abertura da Graciosa, ainda nos setecentos, "se manifestavam sistematicamente os officiaes do conselho de Paranaguá”. Acrescenta que, “Somente depois de erecta a Villa Antonina, foi que o problema da viação directa para Curytiba entrou no período das soluções praticas”. E não era só isso. Os párocos da Freguesia do Pilar da Graciosa e de Paranaguá viviam em “accesa guerra”, da qual resultaram censuras e excomunhões para os fregueses de N. S. do Pilar da Graciosa, que tiveram que recorrer ao bispo para resolver a questão.
O movimento emancipador, que culminou com a festa popular do 6 de novembro, foi um processo de lutas da emergente comunidade para crescer e se afirmar. Por isso, Ermelino de Leão, ao consultar os manuscritos, conta que a promulgação da elevação da freguesia à vila, com o nome de Villa Antonina, foi seguida de grande alegria popular. Agora teriam os capelistas lei e justiça, com a construção da cadeia, do pelourinho e da câmara (no Brasil colonial o governo municipal era exercido pelo conselho de vereadores, ou camaristas – já imaginaram isso na Antonina de hoje?).
Por isso eu gosto do 6 de novembro. Longe de ser uma data meramente administrativa (a concessão de uma sesmaria, por exemplo) ou uma festa religiosa (a inauguração de uma igreja), é uma data de autodeterminação de uma comunidade. Comunidade que, 211 anos depois, não tem muito pra comemorar, é verdade. Mas é uma comunidade que nós todos gostamos muito e não vamos deixar que o triste fim do século XX obscureça aquele povo lutador do fim do século XVIII. E temos ainda todo o século XXI pela frente....
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