EQUIPE DE GOVERNO

Do sítio www.politicaparapolíticos.com.br

De Francisco Ferraz

Uma equipe de governo irá enfrentar outro tipo de desafio, por isso precisará de qualificações políticas e técnicas diferentes

Uma equipe de campanha serve para a campanha. Não pode ser confundida com uma equipe de governo. Os desafios são outros, as qualificações políticas e técnicas são diferentes.

Uma boa equipe de campanha não é necessariamente uma boa equipe de governo

No poder, sobretudo no caso de funções executivas, há compromissos para honrar; há a necessidade de obter maioria parlamentar, que exige que você abra espaços no executivo para outros partidos; há o seu partido que deseja uma "fatia" do poder; há indivíduos que por sua qualificação técnica você quer ter no governo... Em suma, há múltiplas ingerências que você deve atender e que não têm nada a ver com a campanha e a equipe que a conduziu.
Assim mesmo, há fortes e justificadas razões para você manter a sua equipe de campanha ao seu lado.

1. A equipe de campanha conhece você e sabe trabalhar com você

A equipe que você montou para a campanha tem a sua marca pessoal. Nela, ninguém entrou por "indicação". São escolhas pessoais que estiveram por meses sujeitas ao teste da eficiência. Se ficaram com você até o final é porque provaram sua capacidade. Criou-se um vínculo de lealdade pessoal entre vocês, que somente ocorre entre "combatentes". A proximidade e freqüência de contato fez com que eles também viessem a conhecê-lo, a aprender a trabalhar com você. Conhecem suas manias, seus hábitos, sua família, suas reações, suas oscilações de humor, seus verdadeiros amigos.

Além disso, são pessoas que se acostumaram a decidir sobre pressão, a ter iniciativa, a resolver problemas, a manter a serenidade "sob fogo inimigo", e "last but not least" possuem a memória da campanha. Isto não é pouco... Ao contrário, é muito valioso e raro de conseguir. O novo grupo, com o qual você vai trabalhar, não será tão próximo e íntimo, nem tão leal, nem tampouco tão habituado a trabalhar em situações de crise e de luta.

2. A equipe de campanha conhece os seus eleitores

Sua equipe não conhece apenas você. Conhece também aqueles que o elegeram, o que pensam, o que esperam, o que não querem, suas prioridades, o que funciona com eles e o que não funciona. Afinal, a campanha foi uma "viagem" de descoberta do mundo do eleitor e dos argumentos que o mobilizaram a votar em você. Eles sabem onde eles se encontram, os compromissos pontuais que você estabeleceu com eles, os cabos eleitorais, as pessoas importantes, os jornalistas, os líderes de opinião das regiões. Além disso tudo, eles também são conhecidos.

3. A equipe de campanha tem o "viés popular"

Sua equipe foi constituída de pessoas com a sensibilidade de buscar o contato com o eleitor. Eles adquiriram aquele "viés popular", que faz com que sempre pensem qualquer decisão, na ótica do eleitor. São o oposto dos tecnocratas frios e distantes do eleitor. Em uma palavra, são assessores políticos com aquela perspectiva singular de poder que faz com que se conquiste eleitores e se ganhe eleições.

A equipe de campanha normalmente é constituída de pessoas com a sensibilidade de buscar o contato com o eleitor

A ajuda deles e o conselho sempre serão valiosos, os "insights" políticos que possuem pode evitar decisões equivocadas, e, o mais das vezes, orientar "a maneira de fazer as coisas", de tal forma que funcionem bem politicamente. Eles podem ser a "consciência política" vigilante, que diariamente lembra você de suas promessas e compromissos de campanha. Sobretudo eles podem ter aquela visão de conjunto, que é capaz de combinar os aspectos técnicos com os políticos, as ações de curto prazo com as de médio prazo, o "lance" surpreendente com a rotina. Além disso, eles sempre serão úteis para mobilizar a população nos atos e eventos que seu futuro governo vai patrocinar.

4. A equipe de campanha é confiável e leal a você

Certamente você contará com pessoas confiáveis e leais nos seus novos auxiliares de governo. Os da campanha entretanto já provaram tudo que podiam provar. Você já sabe que eles são leais e confiáveis, e que provaram isso nas piores condições - no combate eleitoral. No governo, ao seu lado, eles reterão aquele sentido de lealdade pessoal e missão, que adquiriram na campanha. A sua atitude de mantê-los ao seu lado, é a contraprova da sua lealdade a eles. Serão pessoas que, reconhecidas, o protegerão dentro do novo ambiente, criado pela conquista do governo, com todas as pressões, interesses, ambições e rivalidades que possui.

Em resumo: Para ter sucesso no cargo, você deve manter-se suficientemente fiel ao espírito da campanha. Sua equipe de campanha oferece-lhe extraordinários recursos para este objetivo: lealdade pessoal, sentido de missão, habilidade testada nas "batalhas", e profundo conhecimento pessoal de você e de seus eleitores. São razões mais que suficientes para justificar que você os mantenha ao seu lado. Agora, cuidado. Mantê-los ao seu lado não significa nomeá-los para funções executivas que desconhecem e para as quais não possuem as habilitações indispensáveis.

Mantê-los ao seu lado significa mantê-los como seus assessores, como um círculo de assessoria pessoal, capaz de trabalhar com os demais membros da sua equipe de governo, sem criar problemas de "ciúmes", competição e intriga. A contrapartida do seu gesto de leva-los para o governo, é a participação discreta, eficiente, e cooperativa. Eles devem ter os mesmos interesses que você, a mesma visão de conjunto, e a mesma capacidade de se integrar numa nova e ampliada equipe. Quem não tiver estas qualidades, não serve para governar.

(Colaboração: Anselmo Fernandes)