Por: Jeffe Picanço
Acredito que os povos fazem sua historia e, de modo reverso, são feitos por ela. Em 1668, o povo dos campos de Curitiba erigiu um pelourinho, mas não elegeu sua câmara. Com estes dois fatos, estariam estabelecendo sua autonomia enquanto vila.
Gabriel de Lara, o poderoso senhor de Paranaguá, não permitiu que a câmara fosse eleita. Segundo os historiadores, ele não queria uma nova vila autônoma no planalto que pudesse concorrer com Paranaguá. Somente em 1693, com Lara já morto, é que os curitibanos tiveram coragem e elegeram uma câmara.
Segundo minha modesta opinião, estavam lançados desde aí algumas características marcantes do Paraná. Poderes locais fortes, ciumentos deste poder, não admitindo outros poderes vizinhos. Essa é uma característica marcante de nossa psicologia política. A autofagia. Arranco logo o arbusto antes que ele me faça sombra.
O poder político no Paraná é exercido de maneira funesta, violenta, quando não prepotente e arbitrária. Temos uma elite política que, com as exceções de praxe, oscilam entre o coronelismo e o nepotismo mais nefasto. Para os meus, tudo; para os inimigos, a Lei. O importante é manter o domínio das famílias. A família, no Paraná, é quem manda. Pertencer a uma família é um requisito para o poder. De que família você é? Não precisa, claro está, ser parente de sangue. Pode ser um agregado, por exemplo.
O resultado dessa visão de mundo é o arcaísmo, o atraso econômico, a pobreza cultural. O resultado é uma república fechada para o talento, para o novo, para o futuro. Só admitimos o novo quando ele não ameaça nosso poder. Preferimos, em vez do brilhante, mas independente, a companhia do medíocre, mas “nosso”. Exemplos abundam.
Teremos eleições estaduais ano que vem. Quem serão nossos representantes em Curitiba e em Brasília? Serão varões assinalados, líderes republicanos a defender o Paraná e o Brasil, ou um bando de covardes a votar com o governo, às vezes contra suas convicções, em troca de pequenos favores, muitas vezes favores pessoais? O que temos colocado em nossos parlamentos, de votação em votação, é dominantemente o segundo tipo.
Estamos num tempo novo. Crise é sinal de um mundo velho que se despedaça para surgir um mundo novo. O mundo está mudando velozmente, e pra melhor. Temos, como brasileiros, que assumir nosso destino, pois o mundo está nos chamando. Não é o presidente Lula que é “boa pinta”. O Brasil, com sua jovem democracia, é o cara boa pinta deste começo de século.
Estaremos sendo chamados para ocupar nosso espaço neste novo mundo pós-neoliberalismo. Temos muitas coisas a ser feita, muitas barreiras a vencer. Temos que estar preparados. Temos que ter projetos, temos que ter ambição, ter vontade de vencer. Sem corrupção, sem nepotismo, sem maracutaia. Temos que ter professores que ensinem, estudantes que estudem, trabalhadores que trabalhem, governantes que governem. Temos que ser eficientes e eficazes. Ter criatividade, vontade de fazer.
Isso obviamente, não se faz sem que antes destruamos, dentro de nós, esse medíocre sentimento de inveja autofágica. Vamos superar o mesquinho sentimento de Gabriel de Lara, ir adiante do nosso passado, tecer novos horizontes. Temos que ficar felizes com o espaço conquistado pelo outro, e lutarmos para conquistar o nosso. Assim, todos ganham.
Temos que nos tornar cada vez mais uma sociedade aberta ao talento, ao mérito pessoal, e não familiar. Temos que aproveitar nossa alegria e nossa criatividade para vencermos os desafios que o momento atual nos impõe.
Não podemos ficar parados, chega de berço esplêndido! Desde cortar o mato das ruas até melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, é tudo ao mesmo tempo agora.
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