Por: Jeffe Picançço
Não consegui, nas últimas semanas, manter a regularidade aqui no Bacucu. Meu novo trabalho, ainda cheio de segredos que não consigo dar conta, tem me deixado muito ocupado. Por outro lado, uma série de viagens familiares, por motivos de doença, também me deixaram um pouco mais longe do computador.
No entanto, não estive longe do noticiário. Acompanhei, por exemplo, as notícias nacionais. Em Porto Alegre, onde estive com freqüência nas últimas semanas, foi notícia a frase do deputado gaúcho Sergio Martins (PTB-RS), dizendo que “estava se lixando para a Opinião Pública”. O Zero Hora, por exemplo, deu ampla cobertura e fez uma extensa entrevista com o deputado. Ele falou, se explicou, mas eu não entendi. Então, quer dizer que o deputado do castelo é inocente? Que ele nunca fraudou ou meteu a mão no dinheiro da viúva?
O congresso é cheio de figuras estranhas, radialistas, pastores, figuras estranhas de modo geral. Na realidade, depois de eleitos, ninguém tem acesso ao que eles pensam, fazem, e, principalmente, no que eles votam. Acho que, depois de destacados da realidade das urnas, eles realmente pensem que a opinião pública e o que as pessoas comuns dizem e pensam não está conectado com a realidade deles.
Imagine-se, caro leitor, que você, por força de sua força política e de suas idéias, veja-se alçado ao posto de deputado federal. Em Brasília, mil e poucos quilômetros longe de Antonina, você chega de avião e ingressa num mundo diferente. Muito diferente de tudo que você jamais viu, ali entre o Portinho e a Ponta da Pita. Em Brasília, você anda de carro pra todo lugar. Têm carro, apartamento, assessores. Tudo é cheio de ar condicionado e carpetes. Facilidades em cada passo. Eleitores? Em uma semana, quem vai se lembrar de dona Maria do Socorro, que mora ali no Portinho? Ou no Cleiton, que é de Antonina, mas mora ali no Posto Paris, na entrada de São José? Afinal, foram eles que te elegeram...
Um deputado chega e lhe dá um afago. O outro o livra de uma penosa ação civil. O outro, da comissão de ética, afasta logo de cara qualquer ameaça que possa chegar via ação judicial. Mais um pouco, e o prefeito de Antonina, Morretes, Paranaguá, passam a ser umas figuras chatas, de paletó amassado, chegando naquele mesmo dia de avião, saindo logo cedo de Curitiba, trazendo demandas de lugares que agora parecem tão longe. Você só lembra deles porque tem assessores, pessoas muito espertas e que você paga muito bem com suas verbas de gabinete para que eles façam estes contatos. Volta e meia, um desses assessores vira prefeito daquelas cidadezinhas que você agora despreza, mas vai de vez em quando. O ex-assessor, às vezes, vem te chatear também, assessorando algum prefeito, ou junto com outros prefeitos e vereadores, fingindo uma falsa proximidade.
Como não se indignar com essa laia, que vem te incomodar com um dinheirozinho de merda, chorando um hospital, um posto de saúde, uma escola? Você ali preocupado com a comissão de justiça, de ética, de finanças, e o cara te enchendo o saco com aquela historia de fundo de participação dos municípios? É o fim da picada.
Quando você vai defender teus chapas, os caras que cuidam de você, a imprensa reage. Uns repórteres de merda vêm te ameaçar. E você, autêntico como sempre foi, sem papas na língua, diz que está se lixando pra o que a imprensa diz, para o que a opinião pública diz, para o que o eleitorado pensa. Afinal, ano que vem, esses caras que dizem que tem nojo dos políticos e que não gostam de política vão te eleger novamente, para mais quatro anos em Brasília, a única cidade que realmente vale a pena. Como diria o personagem da novela, é justo, é muito justo, é justíssimo.
Só não queiram que a gente, aqui do outro lado, acredite nessa fábula.
O mesmo, numa escala mil vezes menor, também vale para nossos vereadores.
Um bom fim de semana a todos.
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