terça-feira, junho 2

CRÔNICA DA CIDADE - Nº 71

Por Nerval Pedro Pires da Silva

Até o comecinho dos anos 70, os desportistas capelistas tinham com que preencher suas tardes de domingos. Era o empolgante futebol morretense, filiado a Liga Antoninense, nos proporcionando o belo futebol amador da primeira divisão, dispensando dos olheiros da capital uma atenção muito especial - especificamente aos craques que explodiam da noite para o dia, considerados tipo exportação – made in Antonina, como queiram. A cidade passava então a ser considerada um celeiro de craques, abastecendo os grandes times tanto do Paraná como de Santa Catarina.

Foi um erro irreparável que a partir daí, não se desse continuidade a esse trabalho desenvolvido por aquela geração de esportistas tão apaixonados quanto talentosos. Dizem as pitonisas locais que a decadência do futebol antoninense deu-se com a derrubada das arquibancadas da Associação Atlética 29 de Maio, e com a extinção do Matarazzo Futebol Clube. Afirmam ainda estes que dali em diante, a chama foi se apagando paulatinamente, não obstante, a fábrica de fazer craques não parasse de produzir até os dias de hoje.

Afastado dos campos desde l972, quando o XV de Novembro E.C. sagra-se campeão, tendo este comentarista na condição de seu presidente - a partir daí não mais participara de quaisquer atividades futebolísticas, passando então a me envolver mais com a política administrativa da cidade que já começava a tomar rumos perigosos do populismo tão combatido antes, tendo nos extremos - de um lado, Romildo G. Pereira, e de outro, Joubert G. Vieira, embora ambos pertencessem ao mesmo partido – a ARENA.

Muitos também tomaram outros caminhos, deixando o futebol capelista órfão dos seus líderes que os financiavam até então.

Já mais poderíamos antever que com as saídas destes das direções dos clubes do futebol, ficasse o esporte capelista a se ressentir tanto ao ponto de ter paralisado completamente suas atividades. Todavia, sobreviveram as duras penas outras categorias inferiores no futebol a custas somente de alguns abnegados remanescentes e nada mais, tendo o poder público se eximido sempre, mas, apenas, como mero expectador.

Está bem gravada em nossa memória a importância que o capelista dava ao esporte amador, mais acentuadamente ao futebol. Se a mente não falha, foi a partir da formação do XV de Novembro E.C, que houve a alavancada de incidência na produção de atletas que vieram encher os olhos das platéias do Paraná. Foi o caso do Raul Plasmann; do Marcos Porvinha, que passou pelo Botafogo do Rio e veio parar no Atlético Paranaense; Celso Máscara com seu futebol irreverente - que esteve no Rio Branco, no Atlético, no Água Verde, no Nacional de Rolândia, no Cambé, no Olímpico de Irati, no América de Joinville e depois no Peri de Mafra; do Pimenta no Seleto e depois no Atlético Paranaense; do Valter Sabão do mesmo Atlético e do Coxa; do Jair Henrique (Jaico) também seguindo a mesma trajetória; do Massico no Rio Branco, Atlético e depois no Votuperanguense; Patesco, Alcatrão, e um pouco depois, o Neutinho, que andara por alguns times da capital, e outros tantos não menos primorosos que a minha desgastada mente deixa de assinalar.

Muitos não menos talentos, não quiseram daqui sair, embora os assédios tenham sido tantos, preferiram terminar os seus dias de esporte nos times capelistas, como foi o caso de Miro Pixote e seu irmão Leonel Pires da Silva; do Jamil Fayad; do Ional, o gato selvagem; do Gegeco; Osmair o filho de Bino; do Dodico estivador e outros tantos. Matéria prima de excelente qualidade é que não falta, pois volta e meia, sempre estou ouvindo comentários aqui e ali sobre a genialidade na bola de alguns garotos daqui da terrinha, prova insofismável que apesar de todos os percalços que está atravessando o nosso esporte, a fábrica não deixara de produzir.

O que está faltando mesmo para que o nosso esporte, e especificamente o nosso futebol voltar a ser forte e famoso como de antigamente, urge, o poder público, interferir nele com vontade política; de resolver alguns assuntos pendentes que vão sem dúvidas a curto e em médio prazo torná-lo auto sustentável. Para isso, faz-se mister atentar para esses detalhes prioritários:

1º) rediscutir e formatar uma parceria séria e duradoura com os agentes da A.A. 29 de Maio, investindo forte naquela praça de esporte, dando toda a infra-estrutura necessária para atender o futebol como as demais atividades correlatas.Sem essa providência, é inconcebível desenvolver um projeto de recuperação do nosso esporte - sem ponto de apoio ficar-se-ia difícil por em prática esse projeto.

2º) O poder público tem que estar cônscio da responsabilidade que assume e ser sério no desenvolver sua política esportiva, nomeando pessoas reconhecidas e com experiências necessárias para gerir essa atividade importantíssima na vida dos antoninenses, da própria cidade, e consequentemente, como elemento gerador de rendas.

Essas medidas paliativas que estão sendo aplicadas em nosso esporte, embora as façam com boas intenções, não passam de medidas de fórum inconsistentes, que não trarão por certo nenhum dividendo em termos de solidificação do nosso arsenal esportivo. Primeiramente, teríamos que visar a fortificação das nossas estruturas de esporte para então passar a gerar o produto tão fácil de ser encontrado por aqui – o atleta.

Trabalhando no atleta desde o princípio, e, pronto para ingressar nas grandes agremiações, a instituição esportiva municipal, teria participação na liberação do atleta, e com essa porcentagem sendo reinvestida no esporte antoninense - isto é o que chamamos de auto sustentável.

Os céticos, por certo dirão que isso não passa de uma idéia surrealista, ou de um sonho de uma noite de verão, (comédia, onde Shakespeare retrata nela, de modo divertido, a tragédia dos desventurados Píramo e Tisbe.) Poderá até ser, mas fora dessa idéia, ou desses sonhos como queiram, não há outra forma de fazer reviver o grande momento que passou o esporte antoninense, cujo qual fui testemunho ocular.

(Fonte: Blog do meu amigo Reginaldo - http://reginaldogouvea.blogspot.com)

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