sexta-feira, junho 26

O MONSTRO LERNIÃO...


Por: Jeff Picanço

O Festival de Inverno de Antonina vai acontecer. Felizmente. Graças ao esforço de toda a equipe que está se dedicando e fazendo das tripas coração para fazer com que o magérrimo orçamento destinado este ano ao festival seja suficiente. Mas foi por pouco.
Não houve praticamente nenhum apoio, e somente graças a uma verba da Itaipu binacional é que tudo se viabiliza. O governo do estado fez ouvidos de mercador ao Festival de Inverno. Ninguém participou, sequer a APPA colaborou com um centavo para viabilizar uma das mais tradicionais festas de arte e cultura de um estado tão carente delas. Uma completa vergonha.

Em parte a culpa cabe a própria UFPR, que não profissionaliza e torna institucionais suas relações. Uma série de benefícios às empresas que ajudassem o Festival, via lei Rouanet, não saíram do papel. O governo do estado também tem culpas, ao não tornar automáticas as verbas para o evento. Aliás, ano a ano, a prática continua a mesma: as verbas só se liberam porque alguém conhece alguém, porque alguém pediu para alguém. Não importa se é a ONG da Mãe Joana ou o Festival de Antonina, tudo deve ser fulanizado. As relações que deveriam ser institucionais se tornam relações pessoais. A possibilidade de se fazer bondades (e maldades) num sistema assim são muito grandes. Bondades (e maldades) são importantes moedas de troca política. A meus amigos tudo, aos meus inimigos a lei.

Aqui no Paraná temos tido um grande azar. Nos últimos vinte anos fomos governados exclusivamente pelo monstro Lernião, o monstro de duas cabeças. O monstro Lernião tem uma cabeça neoliberal, que adora privatizar tudo, flexibilizar as oportunidades de negócios para o empresariado e os ganhos sociais dos trabalhadores. A outra cabeça do monstro é esquerdista, estatizante, procura estabelecer políticas sociais autoritárias e exerce um domínio despótico da informação e da cultura. Entenda-se nesta bagunça.

Mas o monstro Lernião e suas duas cabeças se entendem muito bem. As duas protegem os amigos, evitam institucionalizar as relações de estado, protegem as famílias que dominam o Paraná. A cabeça da direita protege seus amigos. A cabeça da esquerda protege igualmente os seus. E o resto? Basta olhar os indicadores: somos um estado rico de um povo pobre. Temos os mais baixos índices de desenvolvimento humano da região sul.

Somos o estado de políticos dirigindo a 190 por hora, cuidando de seus interesses, rádios e televisões. Os grandes temas nacionais passam ao largo. Temos ministros do “agro-négocio” patrocinando a rapina da Amazônia e do que sobrou da Mata Atlântica. Temos ministro de planejamento de “governo popular” que não se elegeria vereador em sua cidade. E aqui? Aqui o monstro Lernião vai bem, obrigado.

Uns dizem que a culpa é nossa, por votar ano a ano neste monstro. Pode ser. Mas temos alguma escolha? A cabeça esquerda do monstro está desgastada, gritou muito nos últimos seis anos, esbravejou demais, fez muitas piruetas. Será que na próxima elegeremos a cabeça direita do monstro Lernião? Aquela que da outra vez deixou um monte de sujeira embaixo do tapete, e saiu de cena de fininho?

Será que teremos alguma alternativa ao monstro de duas cabeças? Uma alternativa republicana, que casse a carteira dos filhinhos de papai que estão por ai a dirigir perigosamente os nossos destinos. Que torne mais institucionais as relações de estado. Que tenha uma política ampla, aberta e generosa para com a cultura. E que me faça elogiar o apoio dado ao Festival de Inverno de Antonina, um dos mais importantes eventos culturais da próxima década...

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