segunda-feira, julho 27

AS PRIMAS...


Por: Jeff Picanço
Li semana passada uma série de postagens no Bacucu Com Farinha, envolvendo problemas com o mangue e o Plano Diretor Municipal. A reclamação é que, ao arrepio da lei, estava-se fazendo aterros e ocupações em áreas de mangue. Ocupar indevidamente áreas de mangue é uma coisa a se reprovar e se lamentar. Por descaso, incompetência e ignorância, estamos destruindo um dos maiores patrimônios naturais que podemos deixar aos nossos descendentes.

O mangue, ou, mais acertadamente, o ecossistema manguezal, está associado a diversos ambientes costeiros onde haja encontro de águas de rios com a do mar, diretamente expostos à linha da costa. A cobertura vegetal das áreas de mangue, ao contrário do que acontece nas praias arenosas e nas dunas, instala-se em substratos de vasa de formação recente, sob a ação diária das marés de água salgada ou salobra.

Os mangues são os grandes "berçários" naturais, tanto para as espécies características desses ambientes, como para peixes e outros animais que migram para as áreas costeiras durante, pelo menos, uma fase do ciclo de sua vida. O mangue é importantíssimo no equilíbrio natural. Acabar com o mangue é acabar com o nosso bagre, com o nosso siri, com o nosso caranguejo.
Segundo o alguns sites sobre o ecossistema manguezal que consultei (recomendo o site do instituto biológico da USP, disponível em: http://www.ib.usp.br/limnologia/manguezal/), o Brasil possui cerca de 12% dos mangues do mundo. É uma grande responsabilidade nossa cuidar deste patrimônio. Não é por acaso que os ecossistemas de mangue são considerados patrimônios da União pela Constituição Federal de 1988, artigo 225.

Antonina sempre cresceu a custa dos mangues. A ilha onde estava a capela, e hoje é a igreja matriz, estava situada numa ilha rodeada de mangues, segundo nos conta Ermelino de Leão. A própria maternidade onde muitas gerações de bagrinhos nasceram está situada num mangue aterrado. No Portinho e no Tucunduva, os manguezais chegam até a porta das casas.
Acredito estar chegando a hora de uma convivência mais sabia com os recursos que dispomos. Podemos continuar morando, trabalhando, se divertindo, amando e vivendo, sem destruir nossos recursos naturais renováveis. Para que uma sociedade se organize, é preciso regras de conduta. Ninguém pode atirar lixo na rua. Ninguém pode atentar contra o pudor. Ninguém pode aterrar o mangue.

Por que algumas normas não são cumpridas? Por que o Plano Diretor vira facilmente uma letra morta? O Plano Diretor é bom ou é ruim? Dá certo? Ainda continuamos no tempo em que existia lei que “pegava” e lei que não “pegava”? Antonina não pode continuar no século XX. Parada no tempo, a Deitada-a-beira-do-mar!

A ignorância e a incompetência são irmãs. Uma alimenta a outra. Aonde há ignorância, as coisas são mal feitas, os prazos não são respeitados (trapiche já!!), não há valor agregado, ou seja, continua tudo pobre. Aonde há incompetência, não há ensino decente, não há funcionário valorizado, não há produtividade. Onde viceja a ignorância e a incompetência, sempre aparece a prima mais feia delas duas, a má-fé. Quando a má-fé entra, tudo se esboroa de vez. Há desvio de recursos, há desrespeito ao que é público, é o salve-se quem puder. A má-fé se alimenta da incompetência e da ignorância para implantar o seu funesto domínio.

As soluções para isso existem. Há que se implantar o plano diretor, se ele for viável. Se ele estiver pouco adequado aos fins que se destina, reformá-lo ou refazê-lo.
O que não dá é ficar perpetuamente empurrando as coisas com a barriga. É preciso cumprir as leis, respeitar o meio ambiente, lavar as mãos antes de comer. O básico do básico. Gerenciamento por sustos é coisa de incompetentes. E a incompetência é a irmã de ignorância e a prima da má-fé.

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