segunda-feira, julho 13

BAGRES ENSABOADOS


Por: Jeff Picanço

Estive em Antonina há dez dias atrás, colaborando numa oficina do pessoal do PET-Geologia UFPR, que vai ministrar uma oficina em conjunto com a ADEMADAN no Festival de Inverno. É uma oficina interessante, que vai tratar de treinar o olhar para o meio ambiente, principalmente pelo prisma das Ciências da Terra. Ministrada pela profa. Maria José Mesquita (UFPR) e seus alunos, a oficina vai trabalhar com o cotidiano, a observação (o “olhar”) da natureza, com base em alguns mitos geológicos, os geomitos.

Antonina tem um geomito. É o mito da Mãe-Do-Ouro, um ser celeste que atravessava as matas e prenunciava boa sorte e fortuna a quem se encontrava com ela na mata. Comentei e escrevi sobre ele há algum tempo no meu blog. A Mãe-do-ouro foi, inclusive, tema do samba enredo da mangueira em 1973. Este mito, que também ocorre em outras regiões do país, é um mito típico de regiões com tesouros, ou que teve um passado de mineração de ouro. Como é o caso de Antonina.

A oficina vai procurar tratar dos mitos ligados a terra, principalmente com os mitos ligados à explicação de fenômenos naturais, como vulcões e terremotos. Os japoneses, por exemplo, acreditam que o Japão está sobre um imenso bagre ensaboado. Um deus toma conta do bagre, para evitar que ele se mexa. Quando os homens chamam a atenção do deus com suas más ações, ele se distrai e o bagre se mexe, provocando terremotos. Já imaginou se estivéssemos com um bagre ensaboado sob nossos pés?

Depois da discussão destes mitos, a oficina vai tratar de voltar o olhar para a natureza alem dos mitos, para os processos naturais e como nós os enxergamos. Treinar o olhar para os sinais da natureza. Ter informação e ser crítico em relação ao seu próprio meio ambiente, essa é o objetivo da oficina.

Com isso, tive a oportunidade não só de voltar a Antonina, mas voltar a minha terra olhando-a do ponto de vista das ciências da terra, das geociências, que são o meu modesto ganha-pão. Revi o morro do Bom Brinquedo, o Mirante, o Porto do Cabral, o Trapiche (Trapiche já!!) e a Ponta da Pita. Vi que o caminho até o mirante foi arrumado e roçado. No entanto, a falta de manutenção das calçadas e bueiros pode levar a erosão e solapamento da calçada. Nada muito preocupante, mas que deve ser objeto de atenção.

O Cabral é um lugar bonito, mas largado. O mau cheiro e os dejetos estão em toda parte. Um pouco mais de fiscalização, limpeza e de urbanidade - talvez até um banheiro – poderiam fazer toda a diferença. A Pita está bonitinha, limpinha, como, aliás, toda a cidade está. Parabéns, Canduca.

O trapiche é aquilo. Lindo, maravilhoso. No dia em que fui, um belo sábado de inverno, estava tudo ainda mais bonito. O mar estava azul, as serras ao fundo estavam maravilhosas. No mar, os cardumes de tainhas atraiam albatrozes e gaivotas, assim como uma família de botos. Pessoas felizes comiam espetinhos, tomavam cerveja e olhavam o panorama. E o trapiche? Ainda não está pronto? Mas pra quando, meu Deus? No mínimo, que se retire a placa que informa a todos que as obras deverão ser entregues em fevereiro de 2009, pra evitar o constrangimento que a gente fica na frente dos turistas.

Pra mim, em particular, foi bom inclusive pra recompor as energias. Antonina dá uma vontade de a gente fazer coisas, inspira e dá idéias. Na nossa querida Deitada-a-beira-do-mar, é realmente poderosa a conjunção entre cidade, história e natureza. Que privilegio. E que responsabilidade temos nós, bagrinhos ensaboados...

Um comentário:

  1. Jeffinho.
    A presença da profa. Maria José Mesquita vem valorizar muito mais o Festival de Inverno. Parabéns!
    Mauricio Scarante (Masca)

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