segunda-feira, outubro 12

COMO ANDA A CULTURA EM NOSSA CIDADE?

Cultura em nossa

Capítulo X

Por Nerval Pires da Silva

Algum tempo mais tarde, a RA muda-se para a rua XV, em cima do “Um e Noventa e Nove” do Wilson, hoje, que com mais espaço passou a desenvolver melhor as suas atividades radiofônicas, já transmitindo a partir daí, para todo o litoral e parte de Curitiba, suas ondas hertzianas. O seu transmissor fora devolvido ao seu lugar de origem – o Morro da Cruz. Faz-se justiça, no entanto, citar aqui as pessoas que a ajudaram voluntariamente nos seus piores momentos: o casal Ailde e Expeditos Polares, por exemplo; José Carlos Maurício, Gelson Machado, e mais adiante: Carlos Jorge Martins, Jota Martins, Rubens Santos, João Alberto e outros não menos importante nessa trajetória de luta e amor por essa apaixonante dama chamada “ZYX-6 - Rádio Antoninense Ltda”.

Ela foi sempre uma referência em nossa cultura. Dali saiu grandes homens que marcaram época tanto aqui como lá fora, com enfoque para Dr. Antonio de Oliveira Neto, que atuava nos tempos primórdios de sua fundação como apresentador e nas rádios-novelas que a emissora apresentava. Muito tempo depois chegou a ser assessor do Ministro Delfim Neto, no Ministério do Planejamento. Era o homem de confiança dele e que mexia com todas as verbas do governo. Parte da Maternidade de Antonina fora construída com sua ajuda. Seu currículo era de causar inveja até aos presidentes da República, não a este, por que este é um manipulado semi-analfabeto, mas aos outros. Entretanto, candidata-se a vereador e perde para esses que estão aí – pode? Só em Antonina! Aí o prefeito Roque de Paranaguá, que não era bobo, veio buscá-lo para seu assessor no planejamento, e, deu no que deu: Roque revelou-se o maior prefeito de Paranaguá desses tempos moderno com a ajuda deste, e perguntou-me uma vez em seu gabinete, (Roque era meu amigo íntimo quando jovens. Morávamos juntos e éramos vascaínos de carteirinha, ele e seu irmão (falecido) que casara com uma antoninense, minha amiga de infância, que mora atualmente na França, fazendo parte de uma ONG, tinham uma lavanderia – quanto eu, era bancário) vocês lá de Antonina jogaram em meus braços o maior cara que conheci em termos de capacidade de planejamento. Posso saber o que deu em vocês? Eu respondi a ele... (impublicável)

Um pouco mais recente, a despeito de regionalizá-la, trocaram-lhe o nome histórico que tinha e deram-lhe outro – não sei se foi bom – não sei se foi ruim – só o tempo dirá. O importante é que ela está aí, presente nos nossos dias como vanguarda de nossa cultura, e sobre tudo, como patrimônio histórico de nossa cidade. Se outra vez vier acontecer com ela o que acontecera no passado, não tenham dúvidas, estarei lá novamente me alistando como soldado, em defesa da sua permanência no ar como Sentinela que sempre fora.

Aproximávamos-nos das eleições de 1976. Com muita dificuldade montamos uma chapa de vereadores e estávamos à procura de um candidato a Prefeitura. Do nosso lado não havia ninguém com condições de assumir o cargo, eu ainda não estava preparado, precisava amadurecer mais, preferia mesmo um lugar na Câmara, assim adquiriria mais experiência. Claro que a minha meta era um dia chegar lá, mas naquele momento, não. O povo naquelas alturas já começava a aceitar as nossas propostas, embora timidamente – encorajados que estavam, pelo enfraquecimento do regime, proporcionados pela a ação dos setores mais organizados da nação. Eis que aparece Paulo Vergílio Savarim, que bom de palanque que era e, como vereador que fora, começou a namorar o partido de olho na Prefeitura, que com seu faro de raposa via o partido cheio de chance para vencer as eleições. Ressalte-se que ele sempre fora homem mais dado à direita, porém, como estava disposto a rever sua posição, e como todos tem o direito de uma segunda oportunidade, demos-lhe essa chance. Filiamo-lo no MDB e lançamo-lo candidato. Provocamos mais uma vez a ira do sistema leviatã vencendo as eleições. A luta pelo estado de direito continuava, pois o sistema insistia a cada dia mais, a apertar o cerco contra os seus opositores. Urge aqui, fazer uma síntese de alguns fatos ocorrida dentro e fora da Câmara: a maioria dos vereadores que se elegeram pelo MDB, não tinha a mínima consciência do momento histórico que o Brasil atravessava – não entendiam nada do que estavam acontecendo, alguns até criticavam a minha maneira de me insurgir contra o regime – achavam as minhas declarações e os meus pronunciamentos um tanto contundente, fora e dentro da tribuna da Câmara. Eles nunca criticavam o regime. Nunca si quer fizeram um discurso em favor do estado de direito; nunca me apartearam para pelo menos corroborar ou me defender dos ataques dos nossos adversários, muito embora nós não recebêssemos nem um centavo do erário, pois o vereador não era remunerado – só por essa razão dou-lhe alguns descontos. (em meu livro faço um depoimento mais amplo sobre esse ocorrido, comprometido que estou com a história em não deixar passar nem um detalhe desse episódio – tanto é que nunca me deram chance de assumir a presidência da Câmara, por que eles sempre trabalharam contra mim. Meus colegas de bancada preferiam eleger sabe quem, sabe quem? Depois eu conto.)

Em nossa gestão fizemos o que pudemos, pois além de não termos verbas como as de hoje – estávamos, sobre tudo, em uma ditadura militar horripilenta, mas assim mesmo, Savarim, por ser afeito à cultura, e num golpe de mestre junto a Ney Braga que era seu padrinho e governador, conseguira arrastar para cá um, braço do Projeto Pixinguinha, que estava a se apresentar em Curitiba. Foi o maior evento cultural realizado em Antonina. Não existiu outro igual. Construímos um teatro de madeira coberto com sapê desde o início da travessa Marinho Pinto até o final dela, aqui no prolongamento da Dr. Carlos Gomes da Costa, e junto com o festival promovemos outro Festival de Músicas Popular Brasileira. Vieram jovens músicos de todo o Paraná a participar do evento. Paralelamente, Ney Braga nos brindava com o Projeto Pixinguinha, mandando para nós mais de 150 artistas de renome do cenário nacional. Esse projeto permaneceu junto a nós uns 15 dias. Foi o maior banho cultural ocorrido aqui. Vieram também grupos de teatros da Universidade de Pernambuco, apresentando peças teatrais com enredo todos eles críticos, dirigidos ao regime militar – eram núcleos de estudantes politizadíssimos, que por suas próprias expensas vieram para cá, atraídos pelo Projeto Pixinguinha, no qual tive a honra de assessorá-los, enquanto aqui permaneceram. Lembro de uma das apresentações deles no Clube dos Operários velho, quando os nossos jovens não entendendo o que estava se passando com as nossas instituições, promoveram uma algazarra infernal interrompendo o espetáculo por várias vezes. Peguei rápido o meu carro e levei para casa minha esposa e meu filhinho que ainda era pequeno e voltei correndo. Nessas alturas os estudantes haviam se retirados para o camarim. Subi até os bastidores onde eles se preparavam para ir embora decepcionados e, ao me ver disseram: não dá Vereador, desculpe-nos, mas são uns animais. Eu lhes pedi que me ouvissem. Pelo respeito que me tinham, deixaram-me falar. Disse-lhes então mais ou menos assim: Eu sinto o que vocês estão passando. Mas vocês acham que se o Brasil estivesse politizado tanto quanto vocês e quanto a mim, o militares teriam tido a coragem de se insurgir contra as nossas instituições e promover essa maldita ditadura que cerceia os nossos direitos? Por ter pego uma Pátria distraída igualzinha a esse punhado de gente que está aí a vaiar vocês, somando-se a uma classe média completamente despolitizada e egoísta, em parceria com setores da Igreja, só podia dar no que deu! Cabe a nós agora trabalhar a cabeça deles, politizando-os, dando-lhes um pouco de cultura – esse é o nosso papel. Por isso vocês vieram parar aqui. Eu não acredito que vocês vieram aqui pra nada, alguma forças invisível agira em vocês trazendo-os para cá! Por uns segundos se entreolharam, sorriram para mim e disseram: você está certo Vereador – vamos voltar para o palco.

Esse grupelho que estava a vaiar os estudantes, identificado um a um por mim, que por ética deixo de declinar seus nomes, por estarem hoje casados e com filhos, tinha no seu núcleo o delegado de Polícia da época que ao perceber que estava sendo observado por mim, disfarçou e se retirou. Tudo cobra mandada. A partir daí o espetáculo transcorreu sem mais nenhum incidente.

Os artistas que participaram do Projeto Pixinguinha eram: Grande Otelo, Assis Brasil, Edu Lobo e os Boca Livre, Paulinho Boca de Cantor, Maria Cleuza, Célia, Maurício Enhor, Carlos Lyra e sua bela esposa Katy Lyra que fazia aquele quadro da Globo: “o brasileiro é tão bonzinho”, César Costa Filho, o Regional de Claudionor do Rio de Janeiro e tantos, mas tantos, que seria impossível enumerá-los aqui. Almoçavam comigo em minha residência, um dos maiores percussionistas do Brasil, Jadir de Castro e Vanja Orico, estrela de cinema consagrada, que fizera o papel de Maria Bonita nos filmes “Lampião o Rei do Cangaço” e o “Cangaceiro”.

“Nerval Pedro é escritor, comentarista “

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