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Turismo

Trens turísticos ganham o país

Interesse por viagens de trem de passageiros aumenta entre usuários e investidores

Publicado em 28/02/2010 | Agência Estado

São Paulo - Uma locomotiva maria-fumaça podia percorrer cerca de 50 quilômetros antes de precisar parar para o abastecimento de água e lenha. Esse era também o mo­­mento em que os passageiros aproveitavam para entrar nos trens e iniciar as viagens. Das caixas-d’água ao lado dos trilhos surgiram as estações, e essas foram responsáveis pelo desenvolvimento de muitas cidades no século passado. Só que a imagem de uma pessoa saindo de uma estação para seguir de trem até outro município está apenas na memória. Uma forma de revivê-la é com os trens turísticos, que, apesar das dificuldades, voltam a se proliferar pelo país.

Eles sofreram um forte abalo com a privatização das ferrovias, nos anos 1990. O mercado se voltou totalmente para cargas e praticamente não sobrou espaço para os passageiros e para a me­­mória. Em 2004, só cinco linhas turísticas tinham autorização para funcionar da Agência Nacional de Transportes Ter­­restres (ANTT). Contrariando a lógica, há atualmente 22 – além de sete pedidos sob análise. “Não houve cuidado de determinar a manutenção dos trens de passageiros durante a privatização, porque a carga é mais rentável”, diz o chefe de trens da regional paulista da Associação Brasileira de Preservação Fer­­roviária (ABPF), Anderson Conte. “Mas tentamos ficar com o pouco que sobra para preservar a memória.”

Roteiros de R$ 5 a R$ 8 mil

As viagens nos trens turísticos podem ser feitas em bancos de madeira, sob um forte calor e em uma maria-fumaça que anda em certos trechos a menos de 30 km/h. Para os mais apaixonados, essa é a situação ideal. Ou então os passageiros podem deitar em uma confortável cabine com ar-condicionado, com um sofisticado serviço de bordo. Tudo depende do gosto e também do bolso.

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Expansão esbarra na falta de trilhos

Uma das dificuldades para a expansão dos trens turísticos é justamente que não há mais trilhos para serem utilizados – pelo menos não obsoletos ou destinados ao transporte de passageiros. A malha ferroviária nacional é de 29,8 mil quilômetros, mas 95% está na mão de concessionárias de carga e o restante é da malha metroviária das grandes cidades.

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Um dos pontos impulsionadores foi a ação das entidades de preservação da memória ferroviária. Além disso, o mercado do turismo passou a ver as viagens sobre trilhos como um negócio lucrativo, oferecendo diversidade de pacotes, incluindo trens de luxo e combinados com traslados aéreos e estadas em grandes hotéis.

Seja em uma maria-fumaça do século passado ou em um vagão moderno, os especialistas afirmam que todos os passeios são válidos para preservar a memória. “Só o fato de recuperar a experiência de ir até uma estação e entrar no trem ajuda a reconhecer a diversidade do transporte”, diz o pesquisador Célio José Losnak, professor da Uni­­versidade Estadual Paulista (Unesp).

As mesmas características de antigamente são mantidas no passeio Campinas-Jaguariúna, o mais antigo do país. Um guia vai explicando a história da rota, das fazendas ao redor, das cidades e das locomotivas. Violeiros alegram a viagem, que dura três ho­­ras, custa R$ 40 e atrai em média mil pessoas por semana. Na semana passada, dentre os visitantes estava a estudante Yasmin Figueiredo, de 14 anos, pela primeira vez na maria-fumaça, no último vagão. “É para curtir um pouco longe dos meus pais, que estão no primeiro.” No mesmo trem estava o casal Plínio e Marlene Marson, que saiu de Jaú especialmente para o passeio. A data também foi escolhida a dedo: o aniversário de 37 anos de casamento. “Aproveitamos para comemorar em um trem, para relembrar o que a gente fazia anos atrás”, diz Marson.

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