sexta-feira, maio 21

TUBE...

Jeffinho Por: Jeff Picanço

Soube hoje, ao ler o blog do Bó, do falecimento de Jobel Soares de Freitas, o Tube. Tube é (ainda conjugo o verbo no presente) daquelas pessoas que tinham uma forte aura de charme e simpatia: onde ele estava sempre havia lugar para a piada, a sátira, a gozação. Ninguém ficava indiferente à sua passagem. Lembro-me dele dos tempos em que saía de caboco-sambambaia, no carnaval, todo vestido com folhas de palmeira e com o corpo pintado de verde.

Certa vez estava eu no muro da casa de meu amigo Zé Paulo Azim, numa quinta feira depois do carnaval. Tube, completamente torrado, aparece ainda caracterizado como o caboco-sambambaia, com as suas folhas de palmeira já gastas de uma semana de farra. “Ei, Tube, o carnaval acabou!”, gritamos pra ele. “Pra mim ainda não”, respondeu e se foi, cidade afora.

Outras vezes, eu o vi de gravata, tentando parecer sério. Sabia de cor trechos inteiros da bíblia, e tentava se fazer de pastor. Era realmente impressionante com seu conhecimento. Recentemente, acompanhei pelo Bacucu com Farinha sua tentativa de se eleger vereador. “Não vou amadurecer banana pra morcego”, era o seu lema. Neutinho colocou na rede e hoje é quase um lema aqui do Bacucu com Farinha e dos bacucunautas, entre os quais humildemente me incluo. Talvez a política com ele na Câmara Municipal de Antonina tivesse um pouco mais de graça.

Tube era destes que cursou a escola da vida. Foi de tudo. Segundo uma breve biografia feita no livro de Claus Berg – “Antonina, a Vovó do Paraná” - Tube aprendeu a ler e fazer contas na escola do grupo escoteiro Vale Porto. Foi guia de cego, pai de santo, peludo de circo, confeiteiro, sapateiro, ferreiro, padeiro, vigia, músico, pintor, diácono, pedreiro, compositor, marceneiro naval, garçom, camelô, decorador, barbeiro, marinheiro, peão, mas foi, antes de tudo, um filósofo. Um filósofo no sentido mais lato da palavra, daqueles que interpreta a realidade, lhe dá sentido, nos faz pensar. Um filósofo da rua, das ruas de Antonina. Que honra.

Aos pontapés que a vida lhe deu, respondeu com graça e ironia. Uma arma contundente, a ironia. Tube sabia manejá-la com a destreza dos mestres. Com bom humor e ironia, ele podia dizer tudo, fazer tudo e ainda fazer rir, como num bom filme de Charles Chaplin. Tube, como o Carlitos, não se levava a sério, não levava a vida a sério, e nos fazia rir da vida, rir de nos mesmos e do nosso tolo orgulho. Afinal, bebendo o leite, não interessa a cor da vaca, não é Tube?

Tube, vestido de smoking, chegando ao céu. Seus olhos verdes e espertos estão atentos, pra ver se é isso mesmo, se vai realmente entrar no céu, se não é uma peça do Todo-poderoso. Afinal, sabe que borboleta que está sendo caçada tem medo até de biruta de aeroporto. São Pedro lhe faz as honras: “Tube, a vida não foi muito boa pra você lá embaixo, mas tudo isso passou. Pode entrar”. “Macaco que enjeita banana deve ser retardado” pensa Tube e vai caminhando para a porta. São Pedro interrompe seu caminho: “Tube, só tem mais uma coisa”. “Pronto”, pensou Tube, “lá vem alguma coisa que eu fiz. Acho que foi aquele galinho-de-briga do Maninho Pinto que nós botamos na caçarola. Ou então foi aquela outra vez que...” .

Mas São Pedro, bonachão, olha-o nos olhos com malícia: ”não me venha de garfo e faca que hoje é dia de sopa!” diz o santo, dando uma gargalhada. Tube fica aliviado com a brincadeira de São Pedro, dá um sorriso feliz, e finalmente entra no céu. Ate um fio de cabelo tem a sua sombra.

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