quinta-feira, outubro 28

O INCÊNDIO É NO PORÃO...

Jeffinho Por: Jeff Picanço

Aproxima-se o segundo turno das eleições presidenciais. Nestas ultimas semanas, estive quase todo o tempo em viagens de campo com os alunos aqui pelo interior de são Paulo e também pelo litoral. Conheci a bela Parati, bela como Antonina e com cachaças tão boas quanto Morretes.

Neste tempo todo, vi somente de esguelha os debates e embates deste segundo turno. Como já  era de se prever, foi uma das mais longas, chatas e despolitizadas eleições que tivemos desde o retorno a “plenitude democrática”, segundo a expressão do velho e saudoso Ulisses Guimarães (será que ele concordaria com este PMDB que hoje vegeta à sombra do poder? Cartas para a redação!).

Com efeito, foi constrangedor este segundo turno, feito de beatarias e lamentáveis retrocessos na discussão política. Os candidatos perderam o rumo. A candidatura petista, que não me entusiasma, caiu num defensivismo besta, a freqüentar igrejas e se desdizer, como envergonhada do que pensa e faz. nada havia ali do PT que eu conheci, que eu ajudei com minha militância. Nada mais parecido com o velho PTB varguista, até a aliança com o PSD (hoje PMDB) parece uma estranha volta no tempo. Da mesma forma, a candidatura tucana, identificada com um Udenismo tosco, plantada em alguns órgãos de imprensa e na internet, agarrou-se a um conservadorismo tão reacionário que fez Elio Gaspari, em artigo recente, comentar em tom de blague que José Serra havia chegado, 46 anos depois, à marcha da família com Deus contra o comunismo. Pois é.

(Eu participei dessa marcha, segundo meu pai. Tinha uns seis meses, e fui no colo de minha avó, dona Amélia. Foi uma das manifestações mais importantes da classe media reacionária e conservadora em apoio ao golpe de 64. Em Antonina, entre outros, meu avô, Maneco Picanço, esteve entre os organizadores. Não me orgulho disso.)

Pautados pela igreja e pelos evangélicos, pouca coisa foi realmente debatida. Pouca diferença houve. E, nos temas que mais me interessam, nada de novo no front.

Educação, educação, educação. E mais educação. Só a educação maciça e de qualidade pode nos levar a um patamar mais elevado, de país aspirante à potência mundial. Nossos cérebros se perdem no esgoto das favelas e palafitas, para as oportunidades de salário e emprego que o narcotráfico oferece, se perdem para um ensino ineficiente e descompromissado, com professores mal-formados, mal-pagos e acuados pela violência. As propostas dos candidatos para a educação são pífias e genéricas.

Pênalti é tão importante que quem deveria batê-lo é o presidente do clube, como diria o filosofo Neném Prancha. Educação é tão importante que a aula inaugural deveria ser dada pelo próprio presidente, governador ou prefeito. D Pedro II, quando em visita à província, visitava as escolas e tomava a lição das crianças e repreendia os maus professores. Precisamos desta garra, deste entusiasmo pelo saber.

Precisamos de médicos, de engenheiros (mais engenheiros que médicos), geólogos, físicos, literatos, químicos, matemáticos, biólogos, sanitariatas, etc. O Brasil real tem fome de mão-de-obra bem formada. Precisamos de cidadãos, de gente que saiba ler jornal e entender o que o William Bonner fala no JN.

Precisamos, como disse em 2006 o senador Cristóvão Buarque, então candidato a presidente, de educação educação educação e educação. Na ocasião, teve o meu voto.

Por isso mesmo, não concordo em fazer da educação a negociata que era o MEC nos tempos do tucano Paulo Renato. Não concordo em fazer das Universidades Publicas um monte de sucata, com professores mal remunerados e sem perspectiva, como no período 1994-2002. Dessa política estou fora, quero esta gente longe do poder. O que não quer dizer que me encante com a candidatura petista.

Educação educação educação. Como já disse um filósofo da atualidade, recentemente falecido: “Não me venham com escada que o incêndio é no porão”.

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