terça-feira, novembro 2

DIRETO DO TÚNEL DO TEMPO...

sábado, 13 de dezembro de 2008

A pergunta que não quer calar: Afinal, por que a Classe Média é tão burra?

Vira e mexe essas perguntas vêm à tona em discussões entre amigos: qual o problema com o pessoal da Classe Média, por que são tão burros e insistem em apoiar políticos que só querem tomar o poder para beneficiar meia dúzia de amigos bem nascidos, seus familiares inescrupulosos e aqueles que os financiam?

Um parêntese: esse tipo de político, que disfarça cinicamente suas verdadeiras intenções mesquinhas com um discurso moralista e conservador, está melhor representado hoje no Brasil em partidos como o PSDB e o DEMo (ex-PFL). Mas isso pode mudar amanhã se os podres de ricos acharem que essas pessoas não os estão mais representando adequadamente...

Para mim, a resposta é óbvia: a turma da Classe Média não tem "consciência de classe". E você não precisa ler as obras do Marx para enteder o que isso quer dizer. É fácil.

Converse com uma pessoa pobre, à beira da miséria. Ela sabe que é pobre, não tem ilusões sobre a sua condição social. Pode ser que não faça nada para mudar isso e passe seu tempo dentro de uma igreja, onde é invariavalmente ensinada a se conformar com sua situação com frases do tipo "a pobreza é sua cruz e vai te garantir um lugar nos céus", ou vendo as alienantes novelas da Globo. Porém, mesmo que não se de conta disso racionalmente, essa pessoa tem consciência de classe.

A mesma coisa vale para os podres de rico. E aqui estou falando dos Antônio Ermírios, dos Daniel Dantas da vida, sujeitos que tem mansões (no Brasil e no exterior), fazendas, iates, helicópteros, aviões carros importados, ilhas, etc, etc - ou seja, um tipo de gente que pobres mortais como eu e você só vemos no cinema ou na capa da revista Exame. Esses caras têm cosciência de classe, podem ter certeza! É só ver como adoram ver os outros (pobres e remediados) seguindo as Leis e os códigos morais que seus lacaios inventam e disseminam para controlá-los, ao mesmo tempo que infringem todos eles... Por que vocês acham que eles têm verdadeiros batalhões de advogados a servi-los 24 horas?

E é no meio disso que se encontra a Classe Média, que no Brasil se subdivide em três tipos:

1) Classe Média Alta - sabe aquele tipinho que trabalha como escravo num alto cargo de multinacional para manter uma casa de dois andares num condomínio fechado, três carros de luxo na garagem, um apê no Guaruja, paga alta mesada para aos filhos e centenas de plásticas à esposa perua (para não encherem o seu saco enquanto se esbalda com amantes e prostitutas de luxo) - e ainda assim se acha membro da "raça superior" só porque, um dia na festa de fim de ano, o dono da empresa deu um tapinha nas costas dele? Pois é, esse é o preferido dos podres de rico, o mais fácil de ser comprado e manipulado...

2) Classe Média Média - tem um nível de vida razoável, algum conforto, um apêzinho de três quartos na periferia, carrinho popular zero (com prestações a perder de vista), educa os filhos em colégios elitizados e vive no limite do cheque especial para manter isso. É o tipo que trabalha hoje para pagar as contas amanhã. Esse eu conheço bem, pois fui criado como um deles pelo menos até os meus 18 anos (saiba como consegui obter, às duras penas, minha "consciência de classe" lendo meus relatos "Eu Também Já Fui Papagaio da Direita" e "Como Comecei a Ver e Sentir a Matrix"). São aqueles que vivem com medo de perder tudo, sempre no limite do estresse e manipulados pelo terrorismo midiático, ao mesmo tempo que morrem de raiva de quem é igual a eles, porém está do "outro lado" do muro, à esquerda, lutando por um mundo melhor.

3) Classe Média Baixa - resumidamente, são aqueles que trabalham hoje para pagar as contas de ontem, mas mesmo assim ainda são capazes de morar numa casinha bonitinha, ter um carrrinho mais ou menos novo e dar um mínimo de conforto e educação aos filhos (de preferência em escolas estaduais gratuitas). Não são tão raivosos quando o acima citado, porém num misto de conformismo, alienação e vontade de subir na vida, são capazes de tudo para agradar os "de cima". Esses, infelizmente, são os melhores tipos para serem usados como jagunços dos poderosos, como se fossem os capitães do mato pós-modernos (para quem não sabe, capitão do mato era um ex-escravo recém libertado que era contratado pelo próprio ex-dono para perseguir escravos fugitivos).
Então, entre os pobres que mal conseguem se manter vivos e os podres de ricos que acham divertido pagar R$ 7.000 num sapato na Daslu, estão os pobres coitados da Classe Média. Espremidos entre a miséria total e a riqueza absoluta, vivem delirando que um dia vão "chegar lá" no topo da pirâmide e virar um "chapa" do Antônio Ermírio.

E para isso, sonham, basta trabalharem bastante, serem bonzinhos, não questionarem as regras e, acima de tudo, defenderem os interesses daqueles chiques e famosos - afinal de contas, são seus próprios interesses já que um dia eles mesmo poderão também estar lá em cima comprando suas ilhas particulares, não é mesmo?

Essa foi, na minha opinião singela, a grande "sacada" dos podres de ricos: convencer os boçais da Classe Média, por meio de seus aparatos midiáticos (cinema, televisão, jornais, revistas, etc) de que eles estão mesmo bem mais próximos do topo da pirâmide do que da base e que para chegar lá em cima não é difícil, basta ter esforço e dedicação... É aquela velha piada do cara sentando em cima do trabalhador com uma cenoura na ponta de uma vara de pescar - o de baixo vai sair correndo para tentar pegar a cenoura, enquanto carrega o outro nas costas sem nunca coseguir alcançar seu "prêmio".

Se a turma da Classe Média tivésse a mínima consciência de classe, estaria sempre ao lado dos pobres e miseráveis lutando por melhor distribuição de renda, respeito aos direitos humanos e por Justiça social. E não faria isso por altruísmo ou caridade, mas sim por necessidade, para garantir sua própria sobrevivência e um futuro melhor para seus filhos.
O motivo para isso é óbvio, não? Quanto menos pobreza e injustiças existirem no mundo e quanto menor for o abismo que separa as classes sociais, menos chance de perder tudo e viver na miséria as pessoas vão ter. Assim, ao invés de ficarem agarrados desesperadamente ao pouco que tem - tornando-se presa fácil do discurso cínico dos "conservadores" - a Classe Média poderia viver em paz, sem medo do amanhã e sem ódio dos que ousam ter consciência de classe e lutam por um mundo melhor para todos.
Enfim, ouçam abaixo a música "Classe Média", do Max Gonzaga, que resume bem o que eu tentei dizer aqui.

http://tudo-em-cima.blogspot.com/2008/12/pergunta-que-no-quer-calar-por-que.html

(Colaboração via e.mail: Fortunato Machado)

Um comentário:

  1. Neuton...

    Nem bem terminou a eleição e começaram a pulular na internet as mais grosseiras e violentas manifestações de racismo, intolerância e preconceito contra os nordestinos, que, na visão de parte de quem votou em Serra, foram os principais responsáveis pela sua derrota.
    Lógico que essas pessoas nem sequer se informaram para saber que Dilma venceria mesmo sem os votos do Nordeste, que apenas ampliaram a sua vitória. Esses sujeitos apenas aproveitaram a oportunidade para extravasar um sentimento que os dominava.
    Foi como se um vírus há muito incubado tomasse conta da mente do indivíduo e o deixasse sem controle sobre o que sente e, dominado por essa compulsão, ele vomitasse em suas páginas pessoais das redes sociais da web todo o ódio e ressentimento acumulados sabe-se lá há quanto tempo.
    O preconceito e a intolerância dificilmente acabarão em qualquer sociedade. Mas podem diminuir e ser controlados se desde criança as pessoas forem educadas tendo como alicerce valores morais e éticos, se crescerem num ambiente familiar sadio, se a sociedade, como um todo, tomar para si a tarefa de aceitar a tolerância como um princípio básico da convivência.
    Claro que um trabalho desses é muito demorado e exaustivo. Como já observaram alguns cientistas sociais, parece que a classe média brasileira tem cada vez mais arraigada em si a repulsa à mobilidade social dos estratos mais baixos, cada vez aceita menos que os pobres se tornem parecidos com ela, e sofre com a aparente incapacidade de se elevar à condição da invejada burguesia.
    É uma missão que requer atenção constante e dele faz parte punir quem incentive a violência, propague o ódio e o preconceito, contra quem qualquer que seja.
    E essa punição deve ser pesada, exemplar, para que todos saibam o quanto horroroso e desprezível é o crime que praticam.

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