quarta-feira, junho 29

O SENHOR DOS ANÉIS

Para prefeito de Antonina, Gandalf

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Por: Fortunato Machado Filho

Quando acompanho as discussões em torno da política local, prévias partidárias os "achismos" e os noticiários, eu tenho a impressão de que as pessoas não sabem o que é política, do que ela é feita e qual sua importância. Eu não tenho a pretensão de explicar estas coisas aqui — mesmo porque ainda estou estudando-as —, mas gostaria de dizer duas ou três coisas a respeito delas.

Primeiro, eu gostaria que as pessoas lembrassem sempre que política é o trabalho pelo bem comum. Toda e qualquer ação política deve ser avaliada dessa forma e questionada com a seguinte pergunta: «quem se beneficia?». Não se trata de desconfiar o tempo todo dos políticos — embora isso também seja bom em alguma medida —, mas de manter-se atento às verdadeiras motivações de projetos de lei, das próprias leis, de políticas públicas que pretendem beneficiar a maioria da população. Trata-se de verificar se essas leis e políticas realmente beneficiam a maioria da população, se causam mais benefícios do que danos ou se privilegiam apenas uma meia dúzia de cidadãos já muito privilegiados. Toda lei tem justificativas. Questionar os autores das leis é fundamental. Telefones e e-mails são meios bem fáceis de fazer isso; a ausência de respostas (prática comum em alguns políticos de Antonina) é por si só uma resposta bem enfática, significativa e alarmante.

Segundo, se todos aqueles que pensam em disputar as eleições em 2012 tivessem interesse verdadeiro em trabalhar pelo bem comum, eles estariam fazendo isso hoje, com ou sem cargos públicos. Pode-se argumentar que cargos públicos facilitam bastante a tarefa de trabalhar pela cidade, o que é verdade. Mas o oposto não é verdadeiro: se você não trabalha na prefeitura, não é vereador ou secretário municipal, ainda assim você pode fazer algo pela cidade.
A questão é ter sempre mente o que você pode fazer. E fazer. Simplesmente não acredite num sujeito que quer o seu voto, mas que nunca foi um cidadão exemplar; se o máximo que ele faz é apertar mãos, falar alto, sorrir e ser simpático com as pessoas (atenção: são todos correligionários), jogue-o no limbo. Antonina precisa de muito mais além de simpatia e coligações.

Eu ainda me surpreendo ao ver que as pessoas creem de verdade que coligações são coisas bacanas demais; que o que acontece entre quatro paredes legislativas ou executivas é mais importante do que aquilo que acontece fora, todos os dias; e que assinaturas e canetadas valem mais do que aquilo que é feito nesta cidade, inclusive quando as repartições públicas estão fechadas e os fiscais dormindo. Cria-se assim a impressão — falsa, é claro — de que um prefeito é uma espécie de Gandalf – o mago de «O Senhor dos Anéis»–, ou seja, um sábio de poderes mágicos que resolverá todos os problemas com um golpe de cajado.
Você realmente acredita que política se faz com garganta e caneta? Me poupe!... Isso é politicagem em sua pior forma, não política. Você já viu esse filme e sabe que o final é sempre lamentável.

Em Antonina, como no resto do mundo, a mágica consiste em fazer o que é certo, dar o exemplo e trabalhar com gosto pelo bem comum (mediante a séria reflexão sobre o que é esse bem comum). Para isso é necessário livrar-se de nojinhos ideológicos, de antipatias partidárias, de uma preocupação muito severa para consigo mesmo.

O bom político tem um "quê" de mártir, repare. Ele é, pela definição aristotélica, aquela pessoa que encontrou razões, tempo e disposição para abdicar dos próprios interesses. Se você não tem isso, não entre no jogo. Se você não é lúcido e imparcial, se você acredita que a política é uma boa forma de resolver a própria vida, por favor não nos ofereça sua miséria moral. Se você é incapaz de pensar para além dos limites da cadeira que pretende ocupar, fique em casa, vá fazer qualquer outra coisa, menos legislar ou administrar uma cidade.

Um comentário:

  1. O que escreveu o texto, fisgou o bagre usando banana como isca, disse tudo.Os políticos brigam, ou fazem que brigam, protagonizam muito jogo de cena. Depois fazem acordos – alguns transparentes e outros até inconfessáveis – e vão juntinhos para o mesmo palanque ou se metem no mesmo saco. Lá embaixo, alguns militantes, por falta de um pouquinho de inteligência, compram a “briga”, perdem amigos e às vezes ganham inimizade para a vida toda.

    Já presenciei inúmeras vezes prefeitos e vereadores se agredindo em plenário e minutos depois tomarem cafezinho sorridentes e no maior bate-papo como velhos amigos, enquanto os militantes – principalmente aqueles que precisam de um carguinho pra sobreviver – ensandecidos levarem a briga adiante. Bobos!

    É assim que a banda toca aqui em Antonina. Farinha pouca, meu pirão primeiro, depois ficam quatro anos esperando mar pegar fogo para comer peixe frito.

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