DE BAGRES SE FAZ A CRÔNICA
Por: Jeff Picanço
Diz-se por ai que a crônica é um gênero literário leve, despretensioso e menor. É verdade e não é, acredito eu. Alguns, os mestres do gênero, faziam da crônica até a não crônica. Rubem Braga, por exemplo. Ele ia desenvolvendo um assunto como não queria nada – às vezes não queria mesmo! – escrevia, colocava uma flor aqui, um livro ali, uma observação acolá, e um final que nos deixava boquiabertos: havia nos enrolado direitinho, nos fazendo ler até o fim aquele monte de nadas que ele ia tecendo com sua Remington, tipo por tipo. Genial. Outros que adoro: adoro ler o Cony e o Ruy Castro, na folha, assim como adoro ler o Veríssimo, um craque do gênero.
Antigamente, tinha o Carlos Drummond de Andrade, que riqueza! Tinha também o Lourenço Diaféria, no Estadão. Adorava ler o Mauro Santayanna, que escrevia antigamente na folha de São Paulo. Tempos atrás, tive a oportunidade de dizer isso pessoalmente a ele, num avião que pegamos de Brasília para BH. No começo ele até ficou assustado com meu assédio, depois abriu um sorriso simpático e me deu um aperto de mão. Ganhei meu dia.
E os cronistas políticos? Lia sempre, sem entender nada, o Carlos Castelo Branco, o Claudio Abramo, e outros. Quando era bom, lia o texto do cara, mesmo não concordando com ele. Era o caso do Paulo Francis, que adorávamos odiar. Cuidado com ex-trotskistas, como disse estes tempos Daulo Toberto Nequinel, da boquirrota Ornitorrinco Corporation, ele mesmo se definindo um trotskista moderado (Que quer dizer isso mesmo, Gequinel?). Bom, como já dizia, cuidado com ex-trostskistas. Eles são capazes de tudo, até escrever certo por linhas erradas. Paulo Francis era um desses.
Na crônica esportiva, adorava, na Gazeta Do Povo, o Carneiro Neto, por razões quase óbvias (aliás, faltam 39 pontos pra alcançar 47 e fugirmos do rebaixamento este ano, moçada!!). Hoje, curto muito o José Roberto Torero e o Xico Sá, da Folha, embora ambos tenham uma paixão clubística por certo piscídeo da Baixada Santista. O Juca Kfuri, com seu sambe de uma nota só contra a corrupção no futebol é leitura obrigatória de quem gosta dos temas de bola no pé.
Quando a blogosfera antoninense surgiu, eu lia com muito interesse os textos do meu querido Nerval Pires, que conheço desde os tempos de guri, quando ele tinha um programa na radio. Até hoje, não perco os textos do Bó, nosso decano-mor da blogosfera, conosco desde os tempos do jornalzinho de stencil. Também eram interessantes os textos de nosso querido Guardião Do Portinho. Onde andará nosso cavaleiro solitário? Será que ele foi desalojado na tragédia de março?
Tudo isso pra dizer que estou achando nossa blogosfera, inclusive o Bacucu com Farinha, do indômito Neutinho Pires, e o meu Urublues, um tanto sem sal. Tem cerca de 15 blogs dos mais diversos assuntos e interesses, dos mais diversos matizes ideológicos e religiosos e clubisticos, mas o clima está meio assim-assim, de marasmo, de esperar-como-está-pra-ver-como-fica. Ninguém se arrisca a um movimento, ninguém sai da intermediária. Será que, tirando o incansável Bó, nós outros cansamos? Será que está todo mundo esperando a procissão do dia 15? Será que estão esperando pra definir os candidatos nas eleições do ano que vem?
Bagre que dorme a onda leva...