segunda-feira, setembro 5

MÃO PELUDA...

A MÃO PELUDA EM ANTONINA E NO BRASIL.
 
 
Não gosto de saber o que as pessoas dizem pelas minhas costas. Posso ficar vaidoso. (Oscar Wilde) -
 
Por: Fortunato Machado Filho
 
Há muitos anos atrás, existia um garotinho que, dizia que toda vez que ia dormir ficava assustado.
Ele via na parede do seu quarto duas mãos enormes, pretas e peludas que ficavam paradas, tal como quadro.
Tinha medo que a mão viesse pegá-lo, então abraçava o travesseiro, cobria a cabeça e adormecia.
Mas todas as noites a mão estava ali...

O que seria do mundo sem teorias da conspiração? Não apenas a vida seria menos divertida e romântica, como teríamos também que assumir muitas de nossas responsabilidades sem jogar a culpa no desconhecido, no oculto, no estrangeiro e  nos expressar como anônimos nos blogues da vida a nossa "mão peluda". 
 

“Censura! Isso é um absurdo!” Tenho amigos que cismam rotineiramente serem vítimas da “Mão Peluda” (entidade que realmente faz vítimas em Antonina), tendo seus textos alterados, eu já fui uma dessas vítimas.
Dizem, os "mãos peludas de crachá " de Antonina, nas mesas de bares que, não se personalizam nos comentários dos blogues, pois, há um complô contra eles, do chefe do executivo, do judiciário, do legislativo à Santa Sé. O problema é que não aceitam, nem que a vaca tussa, que suas "anonimises" só prejudicam as reais necessidades da sociedade, pois pregam a mentira, o factóide, a irresponsabilidade e a demagogia em seus comentários. Vivem a conspirar como anônimos nos blogues.

Outra teoria famosa é aquela em que os estrangeiros querem destacar a Amazônia do restante do país, ocupando-a com forças militares. Quem curte essa cita, como argumento irrefutável, livros didáticos obscuros com mapas esquisitos (escritos provavelmente na Springfield dos Simpsons) ou documentos com planos mirabolantes de tomar a maior floresta tropical do mundo. Faz muito sucesso entre militares da reserva e desocupados em geral. Mas não respondem uma pergunta básica: para que ter o trabalhão de tomar conta daquela bagunça fundiária, se as riquezas já fluem para fora da Amazônia através de empresas brasileiras e estrangeiras? Empresas que, aliás, adoram financiar políticos nacionalistas que são chegados numa teoria da conspiração.

Variante dessa é a de que devolver terras aos indígenas em regiões de fronteira, demarcando e homologando territórios, pode fomentar a independência desses povos do restante do Brasil. A solução seria manter arrozeiros e outros produtores rurais, muitas vezes ocupantes ilegais das áreas e que adotam uma política de terra arrasada no trato ambiental. Porque estes sim são confiáveis e estão lá para desenvolver o país. Qual a razão de alguém dar ouvidos a uma teoria da conspiração ruralista eu não sei, mas tem sempre um chinelo velho para um pé cansado, né? Novamente, vale a pena checar de onde vieram as doações de campanha de quem diz isso para ver seus interesses. E, até onde eu saiba, os territórios indígenas nunca realizaram um plebiscito ou montaram uma campanha de guerra nesse sentido. Pelo contrário, querem é mais atenção do governo federal.

Poderíamos passar o dia listando outras teorias deliciosas sobre o “inimigo externo” criadas para encobrir interesses internos. O fato é que essa ameaça forjada com propósitos, sem rosto, sem nome, mas tornada gigante pela fala de oradores e especialistas sem preocupação com a realidade, mexe com o imaginário popular. São eles, os outros, contra nós. E, por identidade reativa, passo a detestar o outro sem conhecê-lo.

A mais recente teoria conspiratória é a de que as organizações e pessoas contrárias às mudanças que diminuem direitos ambientais no Código Florestal ou à construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte são compradas por governos e entidades estrangeiros ou inocentes úteis a serviço daquele inimigo externo. Há até um documento da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) circulando por aí que lista organizações nacionais e estrangeiras envolvidas no debate de Belo Monte, mostrando relações de parceria e financiamento.

(Antes que eu me esqueça: o documento é tão, mas tão profundo, que a Abin deve ter usado uma ferramenta que poucos têm acesso para encontrar as informações e produzi-lo. Tipo o Google.)
Tudo isso vai por uma linha de raciocínio que reduz quem não concorda com ela a pessoas sacanas ou ignorantes. Ou seja, quem defende um desenvolvimento sustentável e o direito das populações tradicionais frente ao crescimento econômico sem limites age de má fé (representando interesses estrangeiros para ganho próprio) ou é ingênuo (e não percebe que está sendo usado pelo inimigo). Nada sobre uma terceira opção: pessoas que discordem da forma como é alcançado o progresso e que acreditam que o sucesso econômico sem garantir dignidade e qualidade de vida à esta e às futuras gerações não nos serve e está fadado ao fracasso. Além do mais, um dos pilares da democracia é exatamente o direito à divergência e à sua livre expressão.

O Brasil vai alcançar seu ideal de nação não quando for o celeiro do planeta ou quando tiver um assento entre os grandes, mas no momento em que seus filhos e filhas tiverem a certeza de que não serão expulsos de suas comunidades tradicionais para dar lugar a plantações de arroz e hidrelétricas. Que não serão escravizados em fazendas de gado e cana gerando lucros no altar da competitividade. Que não precisarão cruzar os dedos para que o clima não enlouqueça e um rio invada sua casa ou seu carro.

É claro que existem ONGs canalhas, mas da mesma forma que empresas e governos desqualificados. Contudo, ainda não vi documentos da Abin falando sobre a degradação ambiental, social, trabalhista causada por multinacionais estrangeiras que têm interesse no “progresso”. Volto a falar: a Amazônia já está internacionalizada. E não é de agora. Desde o último período militar, a pilhagem do capital internacional corre solta pela Amazônia, Cerrado e Pantanal, passando por cima de populações tradicionais, camponeses e trabalhadores rurais como rolo compressor.

Sabe o que é mais legal de tudo isso? Durante a Gloriosa, muitas das pessoas que se dizem de esquerda e lutavam contra os verde-oliva pediram e receberam apoio de organizações internacionais de direitos humanos. Sem elas, alguns deles nem estariam aqui para fazer besteira. Agora que os tempos são outros e essas pessoas alçaram ao poder, a necessária solidariedade internacional (uma vez que a defesa da dignidade humana não pode conhecer fronteiras) é vista como ameaça contra a soberania brasileira.

Em outras palavras, quando meu próprio Estado se omite diante do comportamento irresponsável de setores da iniciativa privada ou é ele mesmo perpetrador de crimes, eu não posso pedir ajuda a ninguém?
**Noam Chomsky elaborou a lista das “10 Estratégias de Manipulação” através da mídia. Em seu livro “Armas Silenciosas para Guerras Tranqüilas”, ele faz referência a esse escrito em seu decálogo das “Estratégias de Manipulação”.
 
1 – A Estratégia da Distração.

O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração, que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças que são decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundação de contínuas distrações e de informações insignificantes.
A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir o público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais na área da ciência, economia, psicologia, neurobiologia ou cibernética.
“Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais” (citação do texto ‘Armas Silenciosas para Guerras Tranquilas’).

2 – Criar problemas e depois oferecer soluções.

Este método também se denomina “Problema-Reação-Solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que seja este quem exija medidas que se deseja fazer com que aceitem. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja quem demande leis de segurança e políticas de cerceamento da liberdade.
Ou também: criar uma crise econômica para fazer com que aceitem como males necessários o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.

3 – A Estratégia da Gradualidade.

Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradualmente, com conta-gotas, por anos consecutivos. Dessa maneira as condições sócio-econômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990.
Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego massivo, salários que já não asseguram rendas decentes, tantas mudanças que provocariam uma revolução se fossem aplicadas de uma vez só.

4 – A Estratégia de Diferir.

Outra maneira de fazer com que se aceite uma decisão impopular é a de apresentá-la como “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato.
Primeiro porque o esforço não é empregado imediatamente. Logo, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para se acostumar com a idéia da mudança e aceitá-la com resignação quando chegar o momento.

5 – Dirigir-se ao público como a criaturas de pouca idade.

A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discursos, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse uma criatura de pouca idade ou um deficiente mental.
Quanto mais se pretende enganar o espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por que? “Se alguém se dirige a uma pessoa como se ela tivesse 12 anos ou menos, então, em razão da sugestão, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos (ver ‘Armas silenciosas para guerras tranqüilas’)”.

6 – Utilizar o aspecto emocional muito mais que a reflexão.

Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto-curcuito na análise racional, e, finalmente, no sentido crítico dos indivíduos. Por outro lado, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou injetar ideias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos.

7 – Manter o público na ignorância e na mediocridade.

Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância planejada entre as classes inferiores e as classes sociais superiores seja e permaneça impossível de ser alcançada para as classes inferiores (ver ‘Armas silenciosas para guerras tranqüilas’)”.

8 – Estimular o público a ser complacente com a mediocridade.

Promover a crença do público de que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto.

9 – Reforçar a auto-culpabilidade.

Fazer crer ao indivíduo que somente ele é culpado por sua própria desgraça devido à insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, em vez de se rebelar contra o sistema econômico, o indivíduo se menospreza e se culpa, o que gera um estado depressivo, cujo um dos efeitos é a inibição da ação do indivíduo. E sem ação não há revolução!

10 – Conhecer os indivíduos melhor do que eles mesmos se conhecem.

No decurso dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência geraram uma crescente brecha entre os conhecimentos do público e aqueles que possuem e utilizam as elites dominantes.
Graças à biologia, à neurobiologia e a psicologia aplicada, o “sistema” desfrutou de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicológica. O sistema conseguiu conhecer melhor o indivíduo comum do que este conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos, maior que o dos indivíduos sobre si mesmos.

**Noam Chomsky. Filósofo, ativista, autor e analista político estadunidense. É professor emérito de Lingüística no MIT e uma das figuras mais destacadas desta ciência no século XX. Reconhecido na comunidade científica e acadêmica por seus importantes trabalhos em teoria lingüística e ciência cognitiva.

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