Por: Jeff Picanço
Neste momento, estou em Real Del Monte, pequena cidade
mineira perto de Pachuca, capital do estado de Hidalgo, México. Estou aqui num
congresso sobre patrimônio mineiro, com pessoas do mundo todo. Estou aprendendo
muito, num clima muito legal, de muita camaradagem. Está sendo bem
interessante, discutimos historia da mineração e a conservação do patrimônio
mineiro aqui neste lugar charmoso, a 2700 m de altitude, um pouco como Ouro Preto um
pouco como Campos do Jordão. Para um bagrinho que se criou na Rua Coronel
Libero, perto do Cine Opera, não está nada mal.
Algumas coisas que se discutiram aqui servem para a
discussão sobre o patrimônio da Deitada-a-beira-do-mar. Uma das coisas que se
discutiu aqui é a noção de patrimônio industrial. O que consideramos patrimônio
industrial faz parte do patrimônio cultural e deve ser preservado para as
futuras gerações. Pachuca e Real Del Monte, por exemplo, têm varias minas que se
transformaram em museus. Algumas delas têm grandes exposições nas instalações
industriais, uma delas – a mina de Acosta – tem inclusive um galeria
subterrânea preservada onde os turistas entram para aprender como era o
trabalho subterrâneo. Aqui, se aprende como foi o passado dos trabalhadores das
minas, seus instrumentos, suas técnicas, suas histórias. Uma maquina antiga, em
vez de servir de ferro velho, vai servir para contar como viviam e trabalhavam
nossos pais a avós. Como se diz por aqui, “é Padre!” – ou seja, legal.
Antonina tem um passado industrial de respeito. Tem instalações
portuárias que deveriam estar contando para os turistas sobre como era
trabalhar no porto, como era a vida destes trabalhadores, que equipamentos
usavam. Têm as instalações do Matarazzo, um patrimônio arquitetônico e
industrial belíssimo, que está se destruindo por inércia publica e incapacidade
de gestão por parte dos donos. Temos toda a linha férrea, subutilizada. Onde
está um projeto que recupere a alegria de se andar de trem? Pessoas pagam caro
por isso, e a cidade muito teria a ganhar. Em antonina, temos toda uma zona
portuária, a antiga, que ia desde o portinho até o casarão, e tem também o
atual porto, cujas instalações foram há muito sucateadas por falta de visão dos
administradores da APPA. É ou não é? Alem disso, tem o terminal de cargas, que
ainda pode ser aproveitado também como uma zona de visitação no futuro, e que
não pode ser desmantelado por um burocrata qualquer.
Têm a antiga mina de ferro, os altos fornos e suas histórias.
Onde estão? Por que jogamos todo este passado no lixo como se fosse uma coisa
ruim e perversa? É necessário revalorizar os antigos locais de trabalho, como
uma nova oportunidade a ser construída. Os turistas poderiam estar conhecendo
tudo isso. A juventude poderia trabalhar como guias, e contar esta história.
Isso tudo serve para melhorar renda, aumentar a auto-estima da comunidade,
aumentar a educação e a consciência da população.
Nesta etapa em que se discute o patrimônio histórico da
cidade, e seu tombamento pelo IPHAN, por que não nos perguntarmos sobre o patrimônio
industrial da cidade? O que temos que pode ser visto, mostrado, reconstituído? Como
vamos fazer isso? Tudo o que for feito dará frutos, tão certo como as
goiabeiras que nascem frondosas em nossos quintais. São algumas lições que
Pachuca, no México, pode dar à nossa subtropical, malemolente e bela Deitada-a-beira-do-mar.
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