sexta-feira, março 16

SÓ O QUE NOS RESTOU FOI O PASSADO, MAS TEMOS QUE RECONSTRUIR NO PRESENTE.



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Antonio Bento Bento 

15 de março de 2012 16:23
Para: Bacucu com Farinha - bacucucomfarinha@gmail.com


por Bento Munhoz da Rocha Neto


Como político, tenho assistido frequentemente a vitória do mal sobre o bem. Tenho presenciado o êxito da falsidade em prejuízo dos direitos inalienáveis da verdade. Vi a mentira, com a apresentação bem posta propaganda comprada a alto preço, envolvendo e asfixiando. Testemunhei a mentira circulando com o cunho indiscutível de legitimidade. Senti, em toda a sua plenitude, as repercussões do poder econômico aliado ao poder político, e assim transformado em poder incontrastável. Presenciei, pelos passes de mágica, dessas repercussões, a inversão de todos os valores. Observei o cinismo mais deslavado apresentado como atitude genuína e o gesto mais puro, mais autêntico, mais fiel, mais legítimo, desfigurado pelo inedoneidade dos donos da máquina da propaganda. Tal fato ainda não seria o supremo mal, se não se tivessem eles aliado, por transações inconfessáveis, com os donos do poder político.
Senti a honestidade injuriada pelos desonestos e inidôneos.

Acompanhei a vida de políticos que, inflexíveis no seu espírito público e inamoldáveis na retidão incoercível de suas ações, naufragaram, porque não transigiram nem negociaram.
Por outro lado, acompanhei de longe, o espetáculo de outros políticos, vazios de autenticidade e consciência, trêfegos e levianos, a quem o êxito sorriu, perenemente porque não recuaram nunca diante de nenhuma exigência criminosa, mas ao contrário, aceitaram-na, acataram-na, para conquista e manutenção do poder.

Verifiquei a cumplicidade com a corrupção, erigida, esta, como condição insubstituível de vitória política.
Trago da experiência político-partidária e do trato com os seus assuntos, um misto de desencanto e de dever de persistir nos rumos legítimos. Não abandonei o dever de não desertar, de não fugir, de não buscar a mansidão da renúncia que pode ser tranqüila, mas sabe como uma traição e esquecimento das obrigações fundamentais de intervenção na vida pública.

Como professor, compreendo as degradações da política, os desajustamentos da vida social, as separações inevitáveis entre a perfeição das idéias e a limitação das suas realizações.
Como professor, compreendo.

Mas, como professor também, conhecendo quanto a ação deliberada do homem pode alterar o panorama social, tenho falado à mocidade de meu país, não a linguagem do desencanto, mas a linguagem da fé.
A mocidade não pode perder a fé. Não seria mocidade.

Desgraçado o país, cuja juventude, pela ausência de fé, não diz a sua mensagem.
A mocidade precisa acreditar, para que sua geração some alguma contribuição ponderável à herança social, além da acumulação de experiências de ordem estritamente técnica.
A mocidade universitária do meu país só de mim recebeu incentivos para a ação que trouxesse bem marcado o idealismo. Só lhe falei buscando as raízes que explicassem o sentido das grandes lutas, mas para além das aparências e dos imediatismos. Busquei-lhe o entusiasmo e a paixão que operam milagres. Procurei incutir-lhe a convicção de que vale a pena lutar a fundo pelo progresso, definido pela espiritualidade. Acresci suas reservas morais e sua esperança, assim como sua capacidade de altruísmo e seu poder de dar-se às grandes causas.

Como professor, escondi à mocidade, as cicatrizes do político, e os seus cansaços, as suas penas, os seus desencantos, as deslealdades que sofre, as traições que injuriam. O professor não traiu o político nem mentiu à mocidade. Apenas o completou.

Ensinei as impossibilidades de o ideal realizar-se sem deformações nas contingências e limitações da existência cotidiana. Ensinei a não esperar idéias mais do que elas podem dar. Mas ensinei a esperar delas e a bater-se por elas. Ensinei a querê-las e a afagá-las. Ensinei a própria identificação com elas, sem desânimos nem deserções. Mas ensinei-lhe, sobretudo, a grandeza e a inteireza do comportamento espiritual, só o que vale e só o que fica.

Preguei-lhe grandeza e inteireza de comportamento que permitem, em qualquer circunstancia, ainda na mais desfavorável ou dramática, defende-la e apontá-la, como a melhor atitude, a única atitude inspirada na dignidade.

Ainda que trazendo sensibilidade, as mais fundas cicatrizes marcadas pela monstruosa atividade política, não levei desilusão à mocidade. Não contribuí jamais para que se lhe extinguisse a chama de idealismo. Mas, ao contrário, preguei e fomentei o inconformismo diante da consagradora aceitação do crime e da mediocridade. Preguei a não aceitação. Indiquei a força milagrosa do ideal a iluminar charnecas estagnadas e lodaçais pegajosos. Mostrei a força do ideal permanecendo e superando as vaias do imediatismo interesseiro, e o que é mais importante, permanecendo, superando, e não se contaminando com os aplausos suspeitos do imediatismo ainda e sempre interesseiro.

Filho de Caetano Munhoz da Rocha, presidente do Estado por duas vezes, nos anos 20engenheiro civil, formado pela Escola de Engenharia da Universidade Federal do Paraná, intelectual, ensaísta e professor, presidiu o Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico do Paraná. Lecionou História da América na Universidade Federal do Paraná, Sociologia na Universidade Católica e Economia Política na Faculdade de Engenharia.
Caetano Munhoz da Rocha (Antonina14 de maio de 1879 — Curitiba23 de abril de 1944) foi um político brasileiro.
Foi presidente do estado do Paraná e senador durante a República Velha.

*Artigo enviado pelo historiador Jair Elias dos Santos Junior e retirado do livro Mensagem da América, de 1962, páginas 5e 6

3 comentários:

  1. Bacucu, como é que Você se "atreve" a colocar esse artigo em pleno século XXI??
    Essa moral de homem íntegro e probo, parece que "já era"
    Não se precisa ir longe pra encontrar o exemplo do político do século xxi:- aqui no reino também tem:- político-lesma, político-raposa, político-águia, politico-cobra, político-chacal, político-asno, político-bichopreguiça, politico-urubu, etc.... etc....

    Será que o PARTIDO VERDE vai lutar pelo ressurgimento da moralidade que esse grande cidadão paranaense viveu em sua ilha de cidadão verdadeiro e honesto?????

    Se é isso, é bom Voce começar a andar com "colete à prova de bala" aqui no reino.....

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    Respostas
    1. ...acredito ainda na integridade do homem livre e de bons costumes... tenho que acreditar...

      ...quanto as suas últimas questões, vamos lutar sim, nem tudo está perdido... já sobre "coletes à prova de balas", será que vai ser necessário mesmo?

      ...vou começar a decorar a música de Jorge Ben Jor:

      Jorge sentou praça na cavalaria

      E eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia
      Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
      Para que meus inimigos tenham pés, não me alcancem
      Para que meus inimigos tenham mãos, não me peguem, não me toquem
      Para que meus inimigos tenham olhos e não me vejam
      E nem mesmo um pensamento eles possam ter para me fazerem mal

      Armas de fogo, meu corpo não alcançará
      Facas, lanças se quebrem, sem o meu corpo tocar
      Cordas, correntes se arrebentem, sem o meu corpo amarrar
      Pois eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge

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  2. não precisa de colete, não. Aqui "os interessados" no 'cala-te a boca' são tão incompetentes , que vão atirar com bala de banana... KKKKKKKKK!!!!!!!

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