domingo, dezembro 21

CRISE E OPORTUNIDADE





Por: Jeffe Picanço




Um ano que termina. O ano de 2008, assim como 1968, foi um ano que não terminou. Bombardeado pela Crise Mundial, é um ano que foi cortado no seu último trimestre, e deixa algumas (muitas) nuvens sombrias no horizonte pra 2009. Deixa a sensação de que faltou alguma coisa no final deste ano tão cheio e tão intenso.

O que fazer? Segundo um dito do (mal?) dito Roberto Campos, economista e ministro da fazenda dos governos da Ditadura Militar e um dos mais ferrenhos defensores do (neo)liberalismo econômico: “existem três formas de se perder dinheiro: a primeira, mais rápida e fácil, é no jogo; A segunda, e mais prazerosa, é com mulheres; A terceira e mais segura é confiando nos prognósticos dos economistas”.

Em termos de Brasil, o ano termina ainda bem, com o país enfrentando com balas na agulha a encrenca que já assola o “primeiro mundo”. Amigos que estão ou que recentemente passaram pela Europa confirmam: a crise por lá já estava instalada ou se instalando fazia alguns anos – diminuição do nível da atividade econômica, falta de perspectivas, pessoas com medo. Aqui, estamos ainda todos eufóricos, cheios de esperança e otimistas em relação ao futuro. Vamos ver o que vai acontecer.

Um dos maiores desafios para nosso país crescer é conseguir casar crescimento econômico com distribuição de renda. Nos tempos que correm, tempos de muita informação e de muita rapidez, o capital já não se mede somente pelo acúmulo de riqueza. Sim, a riqueza é importante, mas a grande riqueza das nações neste século vai ser cada vez mais o capital intelectual de um país. Menos soja e mais patentes. Países pequenos, como Israel, têm um grande faturamento, por exemplo, com a venda de softwares. Hoje, não basta ser grande, é preciso ter gente pensando, gente produzindo, gente inventando.

Assim, o grande desafio brasileiro é ter gente inventando. Pra isso, precisamos ter gente pensando. Educação, educação, educação. Os governos, nos três níveis, precisam ter educação e cultura como prioridade. Pra ter gente pensando, gente inventando, é preciso ter gente estudando. Temos que repensar nosso sistema de ensino público que privilegia a quantidade ao invés da qualidade, e que privilegia alguns poucos que podem pagar escola em meio à barafunda que virou nosso ensino público. Onde o professor é marginalizado, pouco respeitado, por vezes até vitima da violência que ronda as escolas.

Um povo educado não é facilmente enganado por falsos líderes e demagogos. Não vende barato o seu voto. Um povo educado se autogoverna. Cuida de suas casas, de seus filhos, de sua comunidade. Um dado mundial e que sempre me deixou muito impressionado e feliz: sempre em que, numa determinada comunidade, aumenta em um ano a escolaridade média das mulheres, o índice de mortalidade infantil cai dez pontos. Isso fala mais que todos os discursos pela educação.

Eu e minha geração temos uma dívida de gratidão com a escola pública, pois foi lá que recebemos nossa instrução. Ela foi nosso grande esteio, nosso passaporte para uma vida digna e autônoma. Quantos de nós saíram do antigo Valle Porto (hoje Moisés Lupion), Rocha Pombo, Brasílio Machado (que está vivo hoje graças à luta capitaneada por nosso querido Eduardo Bó), Maria Arminda, Matarazzo e tantos outros e que estamos por ai, trabalhando e estudando, fazendo acontecer em nossas profissões? Diz aí, o que poderemos fazer pela educação em nossa querida deitada-a-beira-do-mar?

Um bom Natal a todos.

9 comentários:

  1. PARA REFLETIR

    Quando falamos em educação logo nos remetemos aos bancos escolares. Como se lá estivesse a origem de todo problema educacional.
    Será que é só educação que recebemos nos bancos escolares ou é orientação, conhecimento e disciplina que nos é transmitido pelo professores?
    Educação nos parece que é algo que vai além dos bancos escolares ela inicia-se em casa e se esmera à proporção que vamos ampliando os conhecimentos seja através de ensinamentos em bancos escolares ou leitura de bons livros, veículos de comunicação ou ainda interação diária com a sociedade.
    Se educação fosse restrita somente àquela adquirida nos bancos escolares, muitas pessoas que ocupam importantes cargos em nosso país lá não estariam e provavelmente estaríamos perdendo com isto, o que nos mostra que nem sempre diploma significa saber.
    Temos muitos diplomados sem educação, portanto, educação é algo que transcende a escola.
    Grotescamente podemos comparar um diploma a um cheque. Ambos precisam de lastro, o diploma sem o conhecimento e o cheque sem a devida provisão de fundos, são papeis que nada significam.
    Hoje nos bancos escolares nos defrontamos com alunos adolescentes que não têm o menor interesse pelo ensino, não obstante, o governo provê-los de parte do material escolar necessário para um desempenho satisfatório, dentre eles o livro didático que tem um peso significante na composição da despesa escolar. Fala-se despesa quando na realidade deveríamos considerar investimento escolar.
    Há algum tempo atrás, os pais tinham que adquirir todo material escolar com seus próprios recursos sem ajuda do governo, e parece que com isso seus filhos valorizavam mais o ensino. No entanto hoje, mesmo com o governo patrocinando o livro didático os alunos recebem esse material no início do período letivo levam para suas casas e dificilmente os levam para as aulas a não ser no final do ano letivo para devolve-los.
    Em tempos idos, quando o aluno estava com dificuldades em alguma matéria, seus responsáveis tinham que contratar o serviço de um professor particular, hoje o governo criou as aulas de reforço e recuperação paralela para ajudar esses alunos, colocando um professor a sua disposição além do professor normal e pasmem os senhores, nem assim os alunos se animam, pois a freqüência é baixíssima nesse tipo de aula. Tudo isso vem provar que só a ação do governo não é suficiente.
    Outra aberração que encontramos nas escolas é a forma como os alunos tratam o patrimônio escolar, carteiras e paredes recebem todos os tipos de depredações, o governo não consegue vencer a luta na conservação desses materiais. Será que eles aprenderam isso na escola, ou já vieram para ela com esses valores?
    No âmbito relacional podemos registrar o que acontece com funcionários da administração e professores que são diariamente desrespeitados e pouco se pode fazer, uma vez que medidas disciplinares que antigamente eram aplicadas, hoje já não encontram respaldo.
    Por esses e outros motivos que existem e aqui não foram enumerados, podemos responsabilizar apenas as escolas pelo que está acontecendo com a educação, deste país?
    Será que o problema não se inicia na “célula mater” da sociedade, a família?

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  2. Crônica inteligente, leio sempre as crônicas deste rapaz no bacucu e gostria com um pouco de experiência que tenho no setor de metalurgia, digo sem medo de errar, é crise para a maioria e oportunidade para poucos e estes poucos são os que comandam o mundo.

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  3. Nerval Pedro Diz:

    Luiz Pedro, você acertou na mosca, no meu tempo de escola nossos pais é que tinham que arcar com as despesas de material escolar, etc. Nós valorizávamos tanto esse acervo para que os nossos irmãos pudessem fazer uso deles no ano seguinte. Quanto a depredação do patrimônio era muito raro ou quase não existia esse tipo de crime, pois é crime sim fazer o que vem se fazendo com as paredes e carteiras escolares. No tocante a diciplina, quando nós exagerávamos na conduta escolar, éramos castigados pelos professores/e ou diretores, e nossos pais apoiavam integralmente os nossos mestres e completavam o serviço em casa. O nosso caráter era formatado em nossos lares e completados nos bancos escolares. Nós tínhamos o maior respeito pelos nossos mestres e até hoje nós os lembramos com dedicação e amor. Parabém você desnudou o santo.

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  4. Excelente matéria...

    É impressionante como todos pensam que o problema da educação está ligado somente com o governo. Em parte sim, mas todos esquecem da outra: a parte do povo.
    É aí que está o maior problema, você acabou de dizer: descaso dos pais e desinteresse dos alunos.

    Não basta o governo apenas oferecer ensino de qualidade com professores capacitados se os alunos não levam nada a sério.

    É preciso que se ponha em prática um programa de conscientização da população jovem do país. Só assim teremos resultados realmente positivos na educação.

    É correto acabar com a aprovação automática, mas só isso não resolve. Os alunos continuarão desinteressados, e nos próximos anos o que veremos será recorde de reprovação no país.

    É preciso mudar a cabeça do jovem brasileiro e aconselhar os pais a acompanhar e ajudar seus filhos.

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  5. Educação, não é uma questão de nível economico social! educação se dá e se recebe no berço, na família, pobre ou rica! a educação esta faltando muito mais nas casas abastadas, pois lá é que está o grande problema da droga, de não pagar o condomínio, de enganar os outros e se achar o dono do mundo!! Mas para melhorar o nível das escolas, e conseqüente melhora do conhecimento e instrução, é preciso uma reforma de ensino, mais responsabilidade e qualificação de muitos professores, que precisam buscar este desenvolvimento, não só esperar receber do governo esta melhora. Todo o profissional investe em sua melhoria e qualificação, economiza e se sacrifica para isso. Mas tenho visto muitos professores universitários, usarem o dinheiro público para fazerem doutorado sem trabalhar, as custas da sociedade, só para se aposentarem ganhando mais, não oferecendo nada de retorno para a sociedade, que custeou este doutorado. Podemos chamar estas pessoas de educadores? de pessoas de valor? Então esta reforma precisa ser geral, da classe profissional de professores, da sociedade e do governo!

    Júlio Cesar

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  6. Poxa, esse é um problema social...
    Acho que enquanto houver essa grande diferença social entre as pessoas, não adianta mudar só a escola...

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  7. Meu caro Jeffe, eu te entendo porque também sou professor, não sei se poderemos mudar a educação brasileira, mais sei que podemos mudar pelo menos a escola em que trabalhamos já estaremos fazendo muito. Sem falar que os órgãos que deveriam fazer a coisa acontecer não estão nem ai. Os pais hoje só querem parir e delegar a educação dos filhos para terceiros, e quem são esses terceiros, nós professores. É preciso repensar a função da escola, da familia e investir nos educadores que estão ficando doentes sem saber o que fazer.
    Mais não perca a esperança, pois é ela quem nos sustenta em pé.

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  8. Luiz, antes de qualquer coisa, obrigado pelo retorno que vc sempre dá aos posts, que é uma coisa que amadurece a discussão e torna o blog mais efetivo. Realmente, vc tem razão, o problema educacional não está somente nos bancos escolares.
    E vc tem carradas de razão, quando diz que nos bancos escolares recebemos orientação, conhecimento e disciplina. No entanto, acho que “educação” é a soma de todos esses quesitos e outros mais...
    Educação, como vc bem coloca, não está restrita somente aos bancos da escola, mas se estende á família e à sociedade. Não se adquire inteligência nos bancos da escola. A escola só dá polimento a um diamante que a família nos entrega bruto, sem lapidar. O presidente Lula é um exemplo de inteligência que não precisou dos bancos escolares. Mas Lula sempre se cercou de gente letrada, isso ninguém se engane. Na hora do perrengue, ele recorre, humildemente, a alguém mais estudado, tenham certeza. A esperteza, é claro, corre por conta dele....
    Também acho que as escolas, por mais que se critique o ensino e tudo o mais, estão bem mais preparadas para dar educação que antigamente, quando eu ou vc íamos aos bancos escolares. Hoje os livros didáticos são muito melhores, as condições de ensino são fantásticas. O que está acontecendo?
    Concordo com vc quando diz que educação é investimento e não despesa. Cada real que gasto com meus meninos em educação é como se comprasse um apartamento em Copacabana. Quantas pessoas deixam de comprar um carro zero pra pagar escolas para os filhos? Sabemos que não são muitos os pais que fazem essa escolha. Educação é item de segunda categoria. E, o pior: segundo algumas pesquisas, o rico mantém os filhos na escola, inclusive sob ameaça de perder regalias se repetirem o ano. Os mais abonados, incluindo aí a classe média, sabem que o ensino é importante e fazem o possível para o filho estudar.
    O pobre, por diversos – e justos – motivos, tem a educação como prioridade menor. Quando o filho repete o ano, arranja uma desculpa e põe o menino pra trabalhar, pois precisa do seu trabalho pra sustentar a família. Para uma discussão destes aspectos veja (http://veja.abril.uol.com.br/idade/educacao/061200/ponto_de_vista.html).
    A família sozinha também não dá conta. Vemos muitas vezes os pais “terceirizarem” a educação que deveriam dar aos filhos, dando à escola, leia-se aos professores, a tarefa de educar e dar limites aos filhos. Ora, tenham santa paciência...
    O governo também colabora, quando não elege a educação como prioridade. Não há como progredir se a educação tem sempre a mesma verba, o mesmo status do tempo da ditadura. Não adianta melhorar os livros didáticos, capacitar os professores, pintarem as salas de aula, se o presidente, o governador e o prefeito não estiverem na linha de frente dessa luta. Em qualquer empresa, se diz que uma mudança só se efetiva quando a direção da empresa se compromete. Comprometimento. Eis a palavra. Em vez de comprometimento com a dívida pública, com o auxilio a bancos e montadoras, queremos um comprometimento com nossas crianças e adolescentes. Isso sim, nunca antes se viu neste país...
    Com isso, te digo que você está certo, mas parcialmente. Cabe parte do problema à família, dar limites e impor os bons hábitos. Cabe a escola dar a orientação e o conhecimento. E cabe ao governo dar prioridade de verdade à educação. Muitos discursos e pouca educação, os males do governo Lula são...
    Um abraço e muito obrigado pela discussão. E um bom natal pra você e sua família.

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  9. desculpem , link correto para o artigo que citei é: http://veja.abril.uol.com.br/171208/p_024.shtml

    abraços

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