Por: Jeffe Picanço.
Preocupado e desorientado com os rumos do mundo atual, resolvi buscar auxílio espiritual.
Fui procurar meu babalorixá, pai Zinho de Obatalá, que nas horas vagas também é segurança ali no Shopping Muller. “é a crise, zifio”, ele me explica. “os orixás ajudam de um lado, eu me defendo de outro”. Atento às minhas explicações, pai Zinho colocou algumas ervas no fogo, invocou alguns santos, fumou um charuto muito do fedorento que quase me deixou zonzo.
Quase? Levei um susto quando vi aquele cara na minha frente, moreno, de bigodes, vestindo um paletó antigo, com um belo chapéu panamá na cabeça.
Quem será esse sujeito todo empertigado? Mal tive tempo pra me refazer, o sujeito foi logo me perguntando: “você é de Antonina?”. Disse que sim, e ele já foi emendando outra pergunta: “vocês já conseguiram desequiparar os fretes com Paranaguá? Sem isso o porto não anda”.
Quem será esse sujeito todo empertigado? Mal tive tempo pra me refazer, o sujeito foi logo me perguntando: “você é de Antonina?”. Disse que sim, e ele já foi emendando outra pergunta: “vocês já conseguiram desequiparar os fretes com Paranaguá? Sem isso o porto não anda”.
Fiquei surpreso com a questão, muito prática pra ter vindo de um espírito desencarnado. Falei o que sabia do porto, do declínio que sofrera ao longo de todo o século passado, e vi que o sujeito ficou vermelho: “Como assim? Fechar o porto? Como deixaram? E a cidade hoje vive de quê?”. Expliquei a questão da ponta do Félix, do aproveitamento daquele cais e dos modernos métodos de embarque de mercadoria. Falei também da opção do turismo, aproveitando nossas belezas naturais e históricas. Ele ficou mais contente, satisfeito com o que ouvia: “já não era sem tempo, murmurou”.
Mas ficou perturbado quando expliquei que o terminal estava num impasse entre o governo do estado e os controladores privados: “mas o próprio governo do Estado jogando contra o porto e a cidade? Mas tinham me dito lá no céu que a Republica Velha tinha acabado!”.
“E a água encanada? Ainda está de boa qualidade?”, o sujeito me perguntou, aflito. Falei que o SAMAE tinha evoluído muito, mas ainda tinha sérias deficiências. “Água é muito importante”, me disse, mais sério que nunca. Água encanada na casa de todos. Foi minha grande preocupação. É o progresso, a modernidade’, disse, quase fazendo um discurso. “Quando trouxe os canos de água lá do Saivá, fiz a cidade entrar no século XX”, arrematou o homenzinho de chapéu panamá. Foi aí que eu, lento como sempre, percebi que tinha pela frente o doutor Heitor Soares Gomes, deputado estadual e prefeito de Antonina.
“E a água encanada? Ainda está de boa qualidade?”, o sujeito me perguntou, aflito. Falei que o SAMAE tinha evoluído muito, mas ainda tinha sérias deficiências. “Água é muito importante”, me disse, mais sério que nunca. Água encanada na casa de todos. Foi minha grande preocupação. É o progresso, a modernidade’, disse, quase fazendo um discurso. “Quando trouxe os canos de água lá do Saivá, fiz a cidade entrar no século XX”, arrematou o homenzinho de chapéu panamá. Foi aí que eu, lento como sempre, percebi que tinha pela frente o doutor Heitor Soares Gomes, deputado estadual e prefeito de Antonina.
Disse a ele que eu e todos nós o admirávamos, pois ele tinha sido o melhor prefeito “bagrinho” do século XX. Ele não entendeu o termo bagrinho, claro. Mas ficou intrigado: “Muito me honra. Mas, se eu fui o melhor prefeito e a cidade está na condição que vossa mercê falou, quer dizer que a cidade foi pra trás? Estagnou?”. Eu ia responder, mas ele me atalhou: “eu sabia, eu sabia”, falou, para si mesmo. “Aquela mania de ficar só falando mal uns dos outros me preocupava muito. Ninguém queria pensar adiante, só se pensava no hoje.
E no outro”. Tirou os óculos, ficou brincando de polir as lentes e me disse, em tom professoral: “Sabe, meu filho, governar é uma coisa séria. A pessoa tem que ter fibra. Tem que saber agüentar as críticas, que ninguém é perfeito. Saber filtrar o que te dizem. E, principalmente, tem que ter projetos. Projetos claros e possíveis de realizar. Eu, como fui engenheiro, minha preocupação grande foi com obras.
A cidade não tinha água, era só água de poço, ou então os aguadeiros, os caras que vendiam água de porta em porta. A falta de higiene era total. Não tinha sequer um matadouro pra se ter carne de qualidade, sem doenças. Imagine quanta gente morria de doenças evitáveis. Em vez de ficar parado pensando, botei mãos à obra. Também, tinha muito dinheiro disponível, era uma época de vacas gordas. Mas justamente”, disse e me olhou fundo: “justamente, nas épocas de prosperidade temos que ser sábios e prover o futuro, que nunca se sabe. Quando terminei meu governo, começou a crise de 29. A cidade estava preparada”.
Foi então que disse a Doutor Heitor que estávamos vivendo outra crise semelhante. Ele se desesperou: “Mas o quê? Ainda não aprenderam que não se pode deixar o mercado livre, pra fazer o que quiser? Neoliberalismo? A humanidade não progrediu muito, mesmo! Outra crise global!”, disse, olhando para os céus.
Passado este destempero, doutor Heitor me disse: ‘O que vossa mercê me falou me fez um mal muito grande. Se já não fosse defunto, teria um infarto. Minha Antonina estagnar, ficar parada no tempo? Tsc, tsc. Mas, sempre se tem jeito. Vocês têm que botar mãos a obra, viu? Parar de disse-me-disse, sentar a bunda na poltrona e trabalhar, procurar saídas. Elas existem”. Dito isso, tirou o panamá da cabeça, alisou os cabelos com a mão, arrumou os óculos. “Se precisarem de mim, estou por aqui. Estou fazendo algumas obras aqui no céu também, mas sempre tenho um tempo pra minha terrinha”, disse, com um sorriso no lábios. E se esfumaçou.
Pai Zinho de Obatalá ainda me deu uma carona até o shopping Muller, em seu Chevette 76. Estava preocupado com o desemprego e a possível recessão. “A gente estava crescendo, estava indo tudo tão bem”, disse Pai Zinho, com uma ponta de saudades do ano passado. “Coisas de algum Exu lá de Wall Street”, sentenciou. Fui pra casa, ainda mais atordoado. Realmente, temos que botar as mãos na massa, sair dessa encrenca que nos meteram. Tomara que encontremos saídas rápidas para esta crise. E tomara que Dr. Heitor não tenha sido uma exceção entre nossos lideres políticos, e que a Deitada-a-beira-do-mar tenha dias melhores e mais felizes que estes últimos quarenta anos...
Ô Jefinho, que estória esta que você acaba de nos brindar! Você não tem o que tirar do teu pai e do teu avô mesmo. Puxou-os todinho - que bela peça o teu saudoso pai nos pregou, hem! Nos tempos de lucidez, tempo que deixou muita saudades em mim, agora, não faz muitos meses, de um amigo que eu julgava que era, que gostava de fazer esse tipo de coisas comigo. Hoje com a sua insanidade,destruiu todo o seu lado bom e afastou-se de todos, mas deixemos pra lá as coisas tristes. O que eu quero dizer mesmo, é que você com esse tipo de pilhéria´´
ResponderExcluirfez renascer em mim aquilo que sempre gostei de passar para o papel - essas coisas que você acabou de fazer tão bem Jefinho. Abraços
Neuton
ResponderExcluirO Jeffinho nas suas cronicas muito bem escritas tenta abrir os olhos dos nossos governantes, mas a arrogancia e a vaidade deixa os homens imaginando que são eternos no poder e portanto acima de todos os mortais, ai é que mora o perigo, o descaso com a gestão publica enterra a esperança de que tenhamos um futuro melhor, mas o povo de Antonina não tem bola de cristal e sim muita tem fibra, assim talvez algum dia consiga escolher o homem certo para administrar a cidade com competencia, ai com certeza todos nos teremos um futuro bem melhor
os políticos vivem um grande drama. O drama do emprego com data pra acabar. E... e depois? Precisam 'dar um geito' de se eternizar no poder. então se 'encostam' no govenador, pra, depois, até a próxima eleição, arrumar um canto de vagabundagem. E... e se isso não der certo? Então, melhor encher as malas de dinheiro e deixá-lo bem guardado. mas o salário que o povo paga é pequeno. então.... vamos 'dar um outro geito....
ResponderExcluirJeffe, repita com insistência histórias como essa:- precisamos acordar, ressucitar os verdadeiros cidadãos, QUE GOVERNAVAM PRA SERVIR O POVO E NÃO PRA SE SERVIR DO POVO....
Jeffe,
ResponderExcluirNa época em que Voce situa a sua História (com 'H" maiúsculo) - não havia fundo de participação dos municípios, não havia nenhum apoio de governo estadual e federal. O Município tinha que se virar sozinho. Isso faz realçar duas coisas:- 1) - A pujança e a riqueza econômica que Antonina tinha. 2) - o valor e a capacidade de administração desses antigos governantes municipais que eram verdadeiros idealistas da democracia e do serviço ao povo.
NESSA ÉPOCA, VEREADOR TRABALHAVA DE GRAÇA !!! ISSO MESMO:- VREADOR TRABALHAVA SEM RECEBER NENHUM TOSTÃO !!! Eram cidadãos que amavam o Município e se dedicavam a Ele de corpo e alma, por amor ao torrão natal!
E TEM CARA POR AÍ BESTANDO E ACHANDO QUE OS VELHOS DEVEM SER ELIMINADOS DAS DECISÕES...
POVO DE ANTONINA, REMEMORE A HISTÓRIA DESSES VALOROSOS HOMENS QUE FIZERAM A SUA HISTÓRIA!!!
POVO DE ANTONINA, ensine aos anões da política de hoje a crescerem e terem a estatura desses estadistas do passado!!!
Antonina, ensina em tuas escolas a tua esplendorosa história. Se isso fosse hábito, é certeza que, HOJE, o respeito por TI seria muito, muito maior!!!
Jeffe,
ResponderExcluirVocê traz à baila os "bibelots" da História, desses otários do passado. No dia a dia de hoje, os bibelots servem pra enfeite... A vida é prática, e recomenda outra prática.... O 'troca troca' deixou de ser pornográfico para ser político.
Jeffe, qual é o mal, se quem se 'ferra' não tem nome? "POVO" não é nome de ninguém... 'NOIS U.S.A E ABUSA DESSE AÍ, DESSE CARA COLETIVO... DESSE CARA COM NOME DE 'POVO'...
ASSINADO:- SOU SAFADO.
não sei até quando vou pertencer ao time dos homens de boa fé... se o que está aí for verdade,ou até meia verdade, é grave, muito grave...
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