sexta-feira, março 27

UMA NOVA ERA DE OURO...



Por: Jeffe Picanço

Amanhã vai ser um novo dia. Ele foi pra cama satisfeito, embora meio ansioso. Amanhã seria outro dia. Primavera, flores brotando por todos os cantos, alegria pelas ruas. Um novo tempo, novas esperanças, uma nova Era de Ouro chegando.

Todos alegres e felizes, sem data marcada pra acabar. Ele duvidava, mas só um pouco. Viveremos mesmo pra ver tudo isso aqui em nossa cidade?
Acordou sobressaltado. Pulou da cama, abriu a janela e o que viu o deixou preocupado:
cadê as flores da primavera?
O que será que tinha acontecido?
Foi para a folhinha da parede, conferiu tudo, o dia estava certo, era o primeiro dia da primavera. Cadê as flores, meu Deus? Saiu à rua.
Velhinhos passavam em frente de sua casa com suas bicicletas velhas.
O comércio abria sonolento, como ontem.
Arrumavam-se as lojas.
Ali adiante uma mulher lavava a calçada.
O sol estava meio escondido entre as nuvens.
Lá atrás o morro do Bom Brinquedo, com seu verde denso, dominava o ambiente.
Cadê as flores?

Seguiu por outra rua, e nada viu de diferente. Mais outra rua, e o que se via era mato, crescendo pelas frestas da calçada. Pessoas passavam rumo ao trabalho, indo fazer compras, crianças indo para a escola, todos indiferentes ao novo dia que se havia prognosticado.
Cadê a primavera, aquela primavera florida que teria que começar aquele dia, pr’aquele exato dia?

Pensamentos tristes começaram a invadi-lo. Será que seríamos merecedores dessa primavera? De quem seria a culpa? Seria do prefeito? Dos vereadores?
Ou dos comerciantes, dos trabalhadores do porto, dos empregados do comércio? Seria das donas de casa a culpa da primavera não ter chegado? Seria uma culpa de todos? Ou seria a culpa dele mesmo, ele sim, que havia acreditado tão tola a ingenuamente que uma mera mudança de data, uma simples mudança no eixo de rotação do planeta seria capaz de trazer flores e alegria àquela cidade tão sofrida?

Estava cabisbaixo caminhando, cercado por estes pensamentos tristes, que nem viu mais em que rua estava. Caminhou umas ruas, virou a esquerda aqui, à direita ali, e viu, para sua surpresa, algo que já estava esperando não ver: um jardim florido. Um gramado bonito, e flores de diversos tipos: havia dálias amarelas e brancas ornando a pequena calçada, com rosas vermelhas lá atrás, agarradas nos muros. Orquídeas em vasos e xaxins estavam penduradas num pequeno caramanchão, com belas bromélias plantadas logo abaixo. A primavera estava ali, naquele modesto quintal, em todo o seu esplendor.

Bateu palmas, e logo uma simpática senhora veio atender. Ele indagou: “minha senhora, estive procurando pelas flores que marcam o inicio da primavera. Andei pela cidade, procurando, e não vi nada. Só aqui, no seu quintal, é que vi tantas flores, mas tantas flores, que isso parece um paraíso. Como a senhora conseguiu tal milagre?”

A senhora deu um sorriso e respondeu: “Não tem milagre nenhum, moço. Esse quintal eu cuido há uns quinze anos, quando me aposentei e vim morar aqui em Antonina. A gente cuida das plantas, poda na estação certa, limpa das pragas, algumas vezes põe adubo, arranca as ervas daninhas. Só isso. Eu e meu marido trabalhamos no jardim quase todo o dia, faça chuva ou faça sol”.

Agradeceu e afastou-se. Havia entendido. Naquele jardim não tinha milagre, e sim trabalho. Trabalho de longo prazo. “Que imbecil que fui”, pensou. ”Não tem como ter flores sem plantar e cuidar delas. Achar que iria colher flores de uma hora pra outra, sem nem sequer tê-las plantado! Que tolice!”. Como garantir a próxima primavera, e a próxima, e a outra depois dessa? Correu pra casa. Lá tinha um pequeno espaço de terra, com umas ervas daninhas. Iria começar hoje mesmo o seu jardim. As flores ainda iam demorar pra nascer.
Mas – dessa vez tinha certeza - uma Era de Ouro ia começar.

***
NOTA:
Jeffe, simplesmente sensacional...

Neuton Pires

2 comentários:

  1. Jeffe, muito, muitissimo boa essa sua crônica: perfeita como peça literária, perfeita como LIÇÃO DE VIDA. Encarna e concretiza uma boa parcela do que foi aqui debatido nesses últimos dias.

    Por aqui se vê uma porção de antoninenses que 'VIERAM DO FUTURO PARA, NESTE PRESENTE, PREPARARÁ-LO'. Você é um deles, meu caro amigo.

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  2. PRIMAVERA, FLORES, BELEZA EM ANTONINA.....

    TUDO ISSO COMBINA COM.... MÚSICA, MUITA MÚSICA!!! NESTA TERRA, CAPITAL DA MÚSICA!!!

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