Por Nerval Pedro Pires da Silva
Estou a escrever estes últimos comentários, levado mais pelo compromisso de todas as semanas, assumido com esse Blog do Neuton, meu sobrinho, pelo qual tenho desmedido orgulho e respeito - pelo caráter que lhe é possuidor e pela vocação herdada de lá da parte do seu avô - de amor e desprendimento por esta terra.
Estou a escrever estes últimos comentários, levado mais pelo compromisso de todas as semanas, assumido com esse Blog do Neuton, meu sobrinho, pelo qual tenho desmedido orgulho e respeito - pelo caráter que lhe é possuidor e pela vocação herdada de lá da parte do seu avô - de amor e desprendimento por esta terra.
Quem dera que esses governantes de meia tigela de hoje, tivessem um décimo do sentimento de zelo que o Neuton nutre por esse torrão - só por esses motivos que escrevo estas mal traçadas linhas e nada mais... A desmotivação já ronda à nossa porta.
Também, continuar escrevendo pra quem? Para um povinho sem vontade - domesticado, morto? Ai, que saudades da minha geração, e as que me antecedeu!
Era ainda um menino, mas está gravada em minha memória para sempre, numa noite dos anos 50, quando da posse do prefeito Ivo Silva. Em seu gabinete, corria um farto coquetel para uma seleta platéia, quando eis que de repente, ele, sorridente, vem ao encontro do meu pai, coloca sua mão esquerda sobre os seus ombros e o arrasta para a sacada do Paço Municipal, e num reflexo de contemplação a cidade, por cima da rua XV de Novembro, exclama: quem diria Oscar, que nós iríamos mandar nessa merda!
Seu Oscar, atordoado com que ouvira, se afastando um pouco do seu braço, envia-lhe um olhar de perplexidade e desconfiança, e num gesto sutil se afasta dali. Ato contínuo: procura dona Maria, minha mãe, que se encontrava em companhias de outras damas capelistas a solverem umas taças de ponche regado a doces e salgadinhos, e narra-lhe o acontecido. Ela, num gesto contemporizador, diz que aquilo deveria ter sido uma brincadeira e nada mais - logo respondendo meu pai que não, que ele estava mesmo se portando de uma forma esquisita que dava medo.
Ivo Silva era bacharel em direito, e funcionário do antigo I.A.P.T.E.C. - hoje INSS. Eleito que fora ao cargo de prefeito pelo PTB de Getúlio Vargas – Oscar Pires da Silva era o seu presidente fundador, e, o vereador mais votado - por conseguinte, presidente da Câmara Municipal.
Aquelas palavras pronunciadas pelo Ivo, num ato irrefletido podiam ser, ficara indelevelmente gravada na mente do seu Oscar, que passara então, a partir dali a fiscalizar com mais acuidade as suas atitudes e seus atos. E, realmente, investido do seu mandato, Ivo de vez em quando cometia as suas travessuras, mas, diga-se de passagem, aquelas não chegavam nem de longe a essas que estes últimos administradores estão acostumados a praticar.
Lembro-me que o prefeito Ivo Silva, mandou cortar a palmeira imperial, há anos plantada no centro da pracinha Carlos Cavalcante, que fica em frente à Estação Ferroviária, e lá a deixou por uns dias no chão à espera de uma idéia do que fazer com ela. Todavia, Manequinho Picanço, (avô do nosso Jefinho) não admitindo esse crime contra o meio ambiente, andou pronunciando alguns discursos contundentes contra aquela ação, aliás, diga-se de passagem, era a sua especialidade esse tipo de manifestação.
Os seus bravos escoteiros liderados pelo Zeca pinto louco, resolvem então, de madrugada, aprontar uma ao burgomestre - indo até a praça pela madrugada a dentro, serram em vários pedaços de dois metros a moribunda palmeira centenária, e a levam arrastada até a porta de entrada de sua residência na rua Conselheiro Alves de Araújo, anexo ao hotel da família de sua esposa, hoje Panaficadora São Luiz, impedindo-o de sair de casa naquela manhã.
Não se esclamentando dessa, seguiu o alcaide fazendo outras de suas travessuras, até que num ato inusitados dos vereadores, liderados por Alfredo Jacob, seu Oscar e Quinco Simão Ferreira( mais conhecido por vaga braba, pai do Julinho, o advogado), resolvem elaborar uma carta renúncia e entregar em mãos do prefeito - depois é claro, de preparar o povo e trazê-lo para frente da Prefeitura.
Eram três horas da tarde de uma terça-feira ensolarada, muita gente na rua XV, as lojas dos irmãos Nicolino e Cecyn Jorge Cecyn, mais a do Nicolau Feres e mais enfrente a Prefeitura, o armazém do seu Gebran Azim, estavam apinhadas de gente a procura de mais informações, pois estavam todos nervosos, excitados, quando inopinadamente os três vereadores resolutos, adentram ao Paço Municipal, sobem as escadarias que dá acesso ao gabinete e vão ao encontro do burgomestre que se encontrava sentado em sua escrivaninha assinando alguns papéis de despachos. Já em volta da mesa, num gesto determinado, seu Oscar arranca do bolso do palitó a carta renúncia e diz: Ivo cansamos das tuas trapalhadas, e a entrega para ler e assinar.
O que é isso Oscar? Disse num sobressalto! Interpôs-se Quinco: leia e assine-a não temos tempo a perder. Assustado, após ler a inesperada missiva, respondeu: não vou assinar de jeito nenhum!
Ah! Não vai assinar – responde Quinco. E fez um gesto de levar a mão direita na cintura.
Senta-se novamente Ivo, e torna a lê-la, desta vez com mais interesse, lívido, balbucia algumas palavras ininteligíveis. Após um longo suspiro e, uma breve reflexão, acaba dizendo: Está bem, vou assinar isso, e assim o fez.
Ato contínuo, limpa suas gavetas e de posse já dos seus pertences, chapéu e guarda-chuva na mão, retirou-se – tendo ainda o incômodo de passar pela frente do povaréu que lhes olhavam incrédulos na frente do Paço Municipal. Incontinente, seu Oscar, de posse da renúncia, dirige-se até a sacada, e lá do alto pronuncia um discurso mais breve que já ouvi em toda a minha: meu povo, Antonina acaba nesse instante de ter um novo prefeito. Uma calorosa salva de palmas acompanhada de gritos e assobios ouviu-se pelos quarteirões a fora.
Isso que eu acabo de relatar, está inserido parcialmente num dos livros escrito pelo eminente historiador Claus Luiz Berg.
Quis com essa narrativa, mostrar e dizer que Antonina tem história de homens valentes, corajosos, determinados, completamente diferentes destas gerações que estão aí.
Nerval Pedro é escritor e comentarista
esse texto,é,sem dúvida de "arrepiar";mas não irei comentar.entende?!
ResponderExcluirBom dia
ResponderExcluirAlguém poderia me informar qual é o cargo do meu amigo Pedro Perereca na atual Administração??
Estando fora de Antonina faz tempo que não o vejo.
Marquinhos
Prás pessoas que colaboraram na campanha, no caso Pedro, Orlandinho, Torneira, eu, sobraram as vagas do "era", "era" prá ser Diretor do Samae, "era" prá ser Secretário de Obras, "era" prá ser Diretor de Turismo, "era" prá sua esposa ser Vereadora. Deveria se mudar o slogan de Antonina Viva prá Antonina uma nova "Era".
ResponderExcluirMauricio Scarante
Prás pessoas que colaboraram na campanha, no caso Pedro, Orlandinho, Torneira, eu, sobraram as vagas do "era", "era" prá ser Diretor do Samae, "era" prá ser Secretário de Obras, "era" prá ser Diretor de Turismo, "era" prá sua esposa ser Vereadora. Deveria se mudar o slogan de Antonina Viva prá Antonina uma nova "Era".
ResponderExcluirMauricio Scarante
Boa Tarde
ResponderExcluirA Antonina atual carece de homens de atitudes nobres como esta relatada pelo Nerval, se nós herdeiros desses antoninenses tomarmos como exemplo homens dessa estirpe, poderemos mudar num futuro muito próximo a história de nossa cidade. Isso significa pensar como devem ser as nossas ações daqui para frente perante as pessoas que administram o nosso município. Enquanto um grupo de atores políticos estiverem decidindo e atuando em nosso nome por causa de uma minoria que os elegeu, o futuro de Antonina pode ser comprometido para as administrações posteriores, como vem ocorrendo nos últimos anos.
Nerval...velho guerreiro. Parabéns pelo texto e o relato verdadeiro de momentos da nossa história.
ResponderExcluirBó
É o que restou ... somente histórias e magnificos guerreiros, que faziam isso pro amor a terrinha, naqueles tempos eles não eram remunerados e governavam por amor a essa terra.
ResponderExcluirInfelizmente vejo quase nada para minha cidade, talvez somente a distribuição de renda dos novatos que entraram agora nesta última eleição, daqui 4 anos teremos os novos ricos da cidade...e muito mais pobres pirambulando pelas ruas históricas da nossa tão sofrida Antonina.