sexta-feira, abril 10

A SUA AUSÊNCIA...



Por; Jeffe Picanço

Hoje, dia 10, faz um ano do falecimento de Salvador Picanço, seu Dodô, meu Pai. Neste período, a terra deu uma volta completa em sua órbita.
Sucederam-se outono, inverno, primavera e verão. Pássaros seguiram suas rotas anuais. Os navios continuaram a singrar os mares e os aviões, o céu. As pessoas continuaram nascendo e morrendo. A vida continua, dizem. No entanto, sinto que algo mudou. O quê?

Cada vez que volto à Antonina, sinto sua presença na velha casa. Nos fundos, na garagem, ainda estão os cartazes que pedem pelo relógio da estação, pelo posto de saúde do Portinho e outras coisas mais. Sua cadeira de balanço está lá, agora vazia. De pronto, nos invade uma sensação de vazio, de falta, de ausência. Seu Dodô não está mais aqui.

Tento imaginar o que ele diria, o que ele pensaria, as coisas que estaria fazendo hoje. O que ele diria de mim, dos meus filhos, da cidade, do mundo. De mim, com certeza diria que a vida estava me dando uma chance pra aprender a pentear o cabelo. Odeio pentear o cabelo. De meus filhos, ia querer saber das notas, da vida escolar. Iria tirar um sarro de minha filha, que recém conquistou sua carteira de motorista logo no primeiro teste: “não pense que vai andar no meu carro!”, diria, entre enfezado e gaiato.

Iríamos dar muita risada da conversa de Lula com o Obama. “Lula que não fique de salto alto. Obama precisa mais de Lula que Lula dele!”, diria, entre preocupado e orgulhoso com nosso novo papel internacional. Iria xingar alguns políticos, e iria sobrar pra muito deputado paranaense. Ele gostava de poucos dentre eles.

Da terrinha, com certeza, ia me contar as novidades, tintim por tintim. Quem falou o que e de quem. O que a prefeitura estava fazendo de certo ou de errado. Quais os planos que ele tinha pra resolver este ou aquele problema municipal. Eu lhe falaria do que estava fazendo, no que estava trabalhando, o que ia fazer no futuro. E assim passaria a tarde, lenta e saborosa. Até a hora de subir a serra de novo.

Mas não acontece nada. Ele não está ali. Passeio por entre suas fotos velhas e seus documentos, folheio distraído os seus cadernos de anotações, cheios com sua letra grande e bem marcada. Um ano se passou, e ainda não aprendi a viver sem sua presença, sem sua alegria ou seu mau humor. Que chato isso de viver, se a vida vai escorrendo por entre nossos dedos e nos afasta das pessoas que amamos. E não há nada que se possa fazer sobre isso.

Certa vez , meu pai me contou uma historia dele. Disse que quando meu avô morreu, durante algum tempo ele ia ao cemitério e lá sentia a sua presença. Uma presença quase física, que ele procurava no ar, nas árvores, no canto dos pássaros. À medida que o tempo passava, no entanto, essa presença foi desaparecendo, até sumir completamente. Meu pai interpretava isso com base em suas crenças, mais chegado no espiritismo. Eu, por outro lado, acho que esse sentimento era dele. Não acredito em metafísica. Era simplesmente uma saudade.

Hoje, sou eu que carrego esse sentimento de presença não presente. É uma saudade que está em mim. Está em todos os que dele se lembram. Lembrar da presença é sentir mais agudamente a ausência, essa é a dor. Mas não há muito que pensar, há que se fazer. A terra continua, os pássaros continuam, os navios e os aviões continuam. Mas nós, nós somos mortais. Por isso mesmo, temos que viver com força e intensidade. Há que se navegar em nossos sonhos mais improváveis, há que ser. Seu Dodô não admitiria outra possibilidade.

NOTA:. Esta é uma homenagem da família Pires ao eterno amigo "Dodô", 1 ano se passou, e a sua luta em ver uma Antonina digna para todos os antoninenses, isto está, e sempre estará dentro de nós AMIGO DODÔ.
Neuton Pires

3 comentários:

  1. O Dodô faz uma falta! Um grande beijo pra ele aonde ele estiver.
    Maria José

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  2. Presto a minhas homenagem a este HOMEM que um dia acreditou que EU poderia ser um político desta terra e me lançou candidato pelo PT,lá pelos meados de 88,e eu tomei gosto pela coisa,claro que não alcancei nenhum cargo público mas já dei os meus primeiro passos ajudando a eleger o prefeito/CANDUCA;sabe jeffe tudo e qualquer dúvida sobre política era a seu PAI quem eu consultava,e foi com ELE que eu aprendi a ser fã do LULA,o dele.
    Eu sei o que voce sente em se tratar de PAI,pois se o meu sinto presente até hoje,já se passaram dez anos,voce pode crêr e acreditar que ELE sempre estará com voce.Um abração a voce e a todos os familiares.
    " ORLANDINHO".

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  3. Belo e verdadeiro.
    Abraço

    "Eduardinho" BÓ. Como era chamado pelo velho Maneco e também pelo Dodo.

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