SONHOS E PLANOS, PLANOS E SONHOS...

Por: Jeffe Picanço

Quando minha filha era pequena, certo dia estava passeando com ela no trapiche (breve teremos o trapiche de volta!! Trapiche já!) e ela, cansada, me disse: “pai, vamos voltar pra Antonina?”. Demorei pra entender, mas ela repetiu mais uma vez a frase e eu, lerdo como sempre, entendi: ela queria voltar pra casa da avó. Antonina, pra ela, era a casa da avó. É assim mesmo. Todos nós temos na cabeça, alguma idéia de cidade. Todos nós temos uma idéia de Antonina, da nossa Antonina.

O que é Antonina, no caso, para cada um de nós? O que é Antonina pra você? Para uns, decerto, Antonina é sinônimo de festa. Para outros, é sinônimo de trabalho, de família, de qualidade de vida. Para cada cabeça, uma sentença, como diz o dito popular.
Para mim, Antonina é sinônimo de descanso, de sossego. É para onde eu vou descansar relaxar, ver os amigos. Simplesmente adoro. Também é sinônimo de raízes, das minhas raízes e, também, das raízes do Paraná. Importante, fundamental. Mas é somente a minha visão.

Para além da cidade de cada um, está a cidade real. Ela é a cidade das pessoas, do trabalho, do lazer, das relações pessoais. Antonina tem uma enorme divida com ela mesma, construída nestes últimos quarenta anos, durante os quais a cidade perdeu o porto e a importância, com o perdão do trocadilho. Mesmo com a recomposição do porto, nos anos 90, a coisa ainda não engrenou. A cidade parece que está sempre devendo algo pra si mesma, e, principalmente, para seus cidadãos.

Isso está por trás de boa parte de nossos males, de nossas penas, reais ou imaginárias. Achamos que o mundo nos deve, o governo estadual nos deve, o governo municipal nos deve, e não fazemos nada.

No caso do mato, achamos que só a prefeitura deve. Realmente, nesse item, a prefeitura deve, e muito. Mas nós também somos responsáveis por nossas calçadas. Por que não limpa-las? No caso do porto, será que não ficamos esperando demais pelas soluções, em vez realmente criar as saídas para essa – mais essa - crise?

Enquanto esperamos as soluções vindas de fora, o que nós antoninenses fazemos para melhorar nossa cidade? Esperar é sempre mais fácil,mais cômodo. Deitada a beira do mar esperando,esperando esperando...

Por exemplo: onde está o Plano Diretor da cidade, que foi discutido e está, segundo sei, em fase de pré-aprovação? Um plano diretor é um conjunto de diretrizes definidas pelos diferentes agentes municipais. Um instrumento político o qual, como diz o prof. Roberto Braga, da UNESP, deve dar transparência e democratizar a vida urbana.
Como diz Braga, para alem de um documento esotérico, feito por urbanistas, técnicos em geral e outros demiurgos modernos, o plano diretor é um instrumento eminentemente político. Que programe as diretrizes da vida urbana, que dê vida aos sonhos de cada um. Onde está o nosso plano diretor?

É preciso olhar pra frente. O passado é um guia, uma referencia, não deve ser uma muleta ou uma venda que nos impeça de ir pra frente. Antonina deve viver do passado, através da arte e do turismo. Mas não viver no passado.

O futuro não chega de repente, é construído dia a dia. Com nossa vontade e nossos sonhos. Neste caso, quem espera nunca alcança, ao contrário do que diz o ditado popular. O futuro se faz dia a dia, com nossos sonhos e nossas vontades. Quem sabe se, juntando os nossos planos e sonhos, não terminaremos por construir uma feliz cidade?