sexta-feira, outubro 30

COMO ANDA A CULTURA EM NOSSA CIDADE? - CAPITULO XI

Por Nerval Pedro Pires da Silva

Entre 1978 até 1980, por aí – passava o país pelos momentos mais difícil – a ditadura nos seus estertores teimava em recrudescer em todos os seus cantos. Minha esposa começava já a ficar preocupada com os telefonemas anônimos de ameaças sutis, porém, em nenhum instante, pedira que eu parasse. Eles não agiam diretamente, mas, sim pela periferia. Todos os meses elementos do SNI (Serviço Nacional de Informação do Exército) vinham até o Fórum colher informações minhas junto ao Juiz de Direito. Eram relatório completo de minhas atividades que teria que ser repassados compulsoriamente a eles todos os meses. Por sorte, o nosso Juiz era um dos sujeitos mais digno que conheci, além da sua competência e sua honradez, era um jovem muito culto e equilibrado. Hoje com todos os méritos, ocupa um cargo dos mais altos da magistratura do estado. Desde quando aqui viera nos tornamos amigos. Após as informações prestadas por ele aos milicos, saíamos por aí às escondidas em seu carro e colocava-me a par de tudo, às vezes ríamos de tudo isso. Permito-me não declinar seu nome aqui por questões de éticas.

O mesmo acontecia com o CENIMAR (Centro de investigação da Marinha) que tinha como seu representante aqui o chefe da Capitania dos Portos de Antonina, Oficial-Tenente Severino (in memória) que antes de passar as informações a seus superiores em um envelope duro e amarelo inviolável, passava primeiro em meu escritório e ao entrar já ia dizendo: feche a porta! Depois depositava o envelope sobre a mesa e pedia que eu a lesse. Tenente Severino foi um desses homens raro que só acontece em cada 100 anos. Muito culto e determinado – também fomos grandes amigos tanto quanto fora uma escola para mim.

Em conversa com o ex-vereador e líder da ARENA, Genival de Lima Feitosa, que diga-se de passagem, um bom vereador, ora nesses dias atrás, informei-lhe que estava escrevendo sobre esses fatos, e incontinente me chamou a atenção dizendo: não esqueça de contar que nós da minha bancada o livramos de uma muito maior que essas que você está dizendo, e pois-se a narrar com ricos detalhes o que eu (desculpem) já havia até esquecido: que numa dessas reuniões comemorativas ao aniversário da “pseudo-revolução redentora”, prometera, que iria encher os sacos dos militares com um discurso contundente contra o sistema – pra quê! Os serviços de contra informações corria como um rastilho de pólvora e imediatamente acionados já estavam todos na frente da Prefeitura disfarçados, esperando que eu me manifestasse para dar o bote.

Fiz o discurso, e ao término, Genival Feitosa e Admaro Santos, que compunham a mesa da Câmara, e com a agravante ainda de serem meus adversários políticos, num ato de coragem e companheirismo, sem que ninguém percebesse me retiraram pelos fundos da Prefeitura, mandando o porteiro abrir a porta rapidamente e me fazer sumir. Os policiais federais não me vendo sair pela frente foram até o plenário da Câmara que ficava anexo a Prefeitura e solicitaram o meu discurso, o que incontinente foi negado por eles argumentando que não houvera discurso algum. Fui buscar meu carro estacionado na frente da Prefeitura só no dia seguinte.

Ao término do mandato, eis que outro golpe é engendrado pelos militares – prorrogam os nossos por mais dois anos, para coincidir com o de governador – puro pretexto deles para ganhar tempo, pois já pressentiam que a queda da ditadura era iminente – era uma questão de tempo. Savarim decide não querer mais continuar prefeito – alega, e com razão, que fora eleito pelo povo por quatro anos, e que ao final do seu mandato tinha todo o direito de escolher não mais ficar, preferindo ser diretor do Porto. Pedi-lhe que renunciasse para que o vice Benito Montalto pudesse assumir e assim o fez.

Contam uma história por aí absolutamente inverídica, que ele, renunciara a Prefeitura, preferindo ser diretor do Porto de Antonina – história essa não verdadeira. Savarim cumpriu integralmente o seu mandato outorgado pelo povo que era de quatro anos, e não aceitou um segundo mandato dado pelos militares, preferindo aceitar a diretoria do Porto presenteada pelo governador. Direito dele de escolha, pois o governador como já dissera anteriormente, sempre o tivera como seu afilhado.
1982 – ano das eleições municipais e estaduais. Lanço-me candidato contra Joubert G. Vieira a Prefeitura. Perco-a e me retiro da vida pública. (todo esse episódio, de luta e decepção narro em meu livro).

(Nerval Pedro é escritor e comentarista)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

COMENTÁRIOS SOMENTE COM CONTAS NO GOOGLE