quinta-feira, outubro 7

BISPOS PROMOVEM "MANIPULAÇÃO ELEITORAL"...

Reproduzo artigo de Maria Inês Nassif, intitulado "Regional Sul da CNBB trabalhou contra voto ao PT", publicado no jornal Valor:

Incrustado na Zona Sudeste da cidade de São Paulo, o Parque São Lucas esconde a única igreja do Brasil da Congregação do Oratório São Filipe Neri.

Fundada pelo padre Aldo Giuseppe Maschi em meados do século passado, a igreja até hoje realiza missas em latim, abolidas mundialmente pelo Concílio Vaticano II, em 1963. Na sexta-feira, o jovem padre Paulo Sampaio Sandes rezou a missa da tarde, de costas para os fieis, com a concessão ao português de três Aves Marias e uma Salve Rainha. O coro, de cinco beatas, também preferiu o latim.

O padre Paulo faz parte de uma congregação tradicional, é contra o aborto, a união civil de homossexuais e a adoção de crianças por casais de homossexuais. Entendeu a recomendação da Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) como uma ordem: expor, na homilia, no dia da eleição, o suposto veto da Igreja Católica à candidata Dilma Rousseff (PT), estendido a todos os candidatos do Partido dos Trabalhadores, e distribuir, na saída da missa, a carta onde explicitamente a regional descarta o voto católico nos candidatos que defendem o aborto, em especial, e nomeadamente, nos petistas. "No dia das eleições eu vou distribuir a carta lá fora, mas a carta é muito explícita em relação aos candidatos, não vou falar o nome deles na homilia", disse o padre, depois da missa, confessando constrangimento com a determinação da Regional. "O próprio Dom Odilo Scherer diz que não devemos falar de nomes de candidatos".

A recomendação da Regional Sul 1, que abrange as dioceses do Estado de São Paulo, foi uma "trama", segundo o bispo de Jales, Demétrio Valentini, da Regional Sul I da CNBB, urdida de forma a induzir os fiéis paulistas a acreditarem que a CNBB nacional impôs um veto aos candidatos do PT nessas eleições. "Estamos constrangidos, pois a nossa instituição [a Igreja] foi instrumentalizada politicamente com a conivência de alguns bispos".

A regional recomendou às paróquias que distribuíssem o "Apelo aos Brasileiros", uma longa carta em que acusa o PT de, mancomunado com o "imperialismo demográfico" representado por fundações norte-americanas que financiam programas de controle familiar, apoiar o aborto, e pediu aos padres que "alertassem" os fiéis para não votarem na candidata a presidente Dilma Rousseff, nem em qualquer outro petista. "A Presidência e a Comissão Representativa dos bispos do Regional Sul 1 da CNBB, em sua reunião ordinária, acolhem e recomendam a ampla difusão do apelo a todos os brasileiros e brasileiras elaborado pela Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1", dizem o site da regional e o site da diocese de Guarulhos.

O presidente da Sul 1 da CNBB, Dom Nelson Westrupp, não respondeu a questões que foram enviadas pelo Valor por e-mail por orientação da sua assistente, Irmã Maurinea. O bispo de Guarulhos, Dom Luis Gonzaga, um dos articuladores do movimento antipetista na Igreja, em julho, no artigo "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus", recomendou "aos verdadeiros cristãos católicos" não votarem em candidatos que apoiam o aborto e, em especial, recusarem o apoio a Dilma e ao PT.

Do ponto de vista da hierarquia católica, a recomendação e o documento dos dirigentes da Regional Sul da CNBB não têm validade. No dia 16, a Conferência deixou claro isso, numa nota oficial: "Falam em nome da CNBB somente a Assembleia Geral, o Conselho Permanente e a Presidência. O único pronunciamento oficial da CNBB sobre as eleições/2010 é a Declaração sobre o Momento Político Nacional, aprovada pela 48ª Assembleia Geral da CNBB, deste ano, cujo conteúdo permanece como orientação neste momento de expressão do exercício da cidadania em nosso País", diz.

O cardeal-arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Pedro Scherer, em 20 de agosto, enviou um comunicado a todos os padres de dioceses esclarecendo que os representantes da Igreja não devem se envolver publicamente na campanha partidária, nem "fazer uso instrumental da celebração litúrgica para expressão de convicções político-partidárias". Sugere que orientem os fiéis a votarem em candidatos afinados com os princípios cristãos, "sobretudo no que diz respeito à dignidade da pessoa e da vida, desde a sua concepção até à sua morte natural", mas alerta para que não indiquem nomes.

Dom Demétrio Valentini, bispo de Jales, foi o bispo que reagiu de forma mais direta e clara ao que chama de "trama" da Regional Sul 1 da CNBB. À sua diocese, tem encaminhado sucessivos artigos contra o documento da regional. "Não é bom para a democracia que alguns decidam pelos outros (...) Mas é pior ainda para a religião, seja qual for, pressionar os seus adeptos para que votem em determinados candidatos, ou proibir que votem em determinados outros em nome de convicções religiosas (...) Portanto, seja quem for, bispo, padre, pastor, ninguém se arrogue o direito de decidir pela consciência do outro, intrometendo-se onde não lhe cabe estar", no artigo "Pela liberdade de consciência", divulgado no dia 19.
A CNBB nacional acabou encerrando sua participação no episódio com a nota em que desautoriza qualquer decisão contrária à da Assembleia Geral, que não vetou candidatos ou partidos. A direção da Conferência está em Roma. Em São Paulo, remanescentes da Igreja progressista estão pasmos. "Nunca houve uma campanha eleitoral com tanta manipulação da religião", lamenta um deles, lembrando que isso aconteceu também, e fortemente, com a Igreja Evangélica.

(Fonte: http://altamiroborges.blogspot.com)

ALGUNS COMENTÁRIOS SOBRE A MATÉRIA...

cesar giometti disse...

Eu li a reação de Dom Demétrio. É uma vergonha para a igreja católica esse tipo de ação rasteira. Sou um católico cada vez menos religioso, pois os exemplos que pregam só desmoralizam a instituição igreja. Não acho imoral assumir a preferência por um candidato, mas agir nas sombras é coisa de ratos... Como acreditar em quem age como ratos? Sem querer generalizar, sei que há grandes religiosos católicos, e são eles que me motivam ainda, mas esse lado obscuro da igreja precisa ser apagado! Dom Demétrio está correto.

5 de outubro de 2010 20:21

Claudinete Sergipe disse...

Bispos e Padres de São Paulo, se instrumentalizaram da CNBB para usar e abusar da boa fé dos fiéis com uma maldita carta/nota contra a campanha da candidata Dilma, que acabou sendo espalhada para o país, inclusive foi distribuída no sábado, véspera das eleições, aqui em Aracaju. Esta carta/Nota da Regional Sul 1 - CNBB ACABOU PREJUDICANDO A CANDIDATURA DE DILMA, inflando os votos de Marina e BENEFICIANDO o candidato SERRA com o segundo turno, que foi quem na realidade que legalizou o aborto no Brasil, quando então ministro de FHC. CABE A CNBB EXPLICAÇÕES AO POVO BRASILEIRO, que na sua grande maioria é católica. Não vale a omissão neste momento. A verdade tem que ser exposta, o nome de Deus não pode ser usado em vão. Essa Carta foi distribuída também aqui, em Aracaju, na véspera das eleições. Leia matéria em Carta Maior: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17026
Veja e Repasse este link http://www.youtube.com/watch?v=yst5IM8Q2os

5 de outubro de 2010 20:48

Glauber Ataide disse...

O psicanalista marxista Reich nos deixou bons trabalhos sobre a relação da igreja e do reacionarismo político.
Vejam este trecho de um decreto nazista em relação à educação da juventude:
"A educação da juventude para apreciar o valor do Estado e da comunidade recebe a sua força interior das verdades do cristianismo... A fidelidade e a responsabilidade para com o povo e a prática tem as suas raízes mais profundas na fé cristã. Por este motivo, será sempre meu especial dever assegurar o direito e a livre propagação da escola cristã e os fundamentos cristãos de toda educação."
De forma não consciente o nazismo soube se utilizar dos mecanismos de repressão da igreja, principalmente na questão sexual, pois a igreja tradicional é uma formadora de pessoas conservadoras e reacionárias.
A repressão sexual cristã tem influência direta na forma de organização familiar e, consequentemente, na orientação política dos fiéis.
http://omarxistaleninista.blogspot.com/2010/10/politica-sexual-igreja-e.html

6 de outubro de 2010 10:00

Anônimo disse...

O ardil, assim como as chibatadas, deve ter sido ideia tramada pela Opus Dei da qual Geraldo Alkimim é seguidor contumaz.

6 de outubro de 2010 11:21

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