quinta-feira, novembro 18

VIVA MARGA!!

 JEFF Por: Jeff Picanço

Sábado aqui será feriado. Mais um dos muitos feriados deste final de ano. Deveríamos estar cheios de feriados: Finados, República, etc. Mas este feriado – o 20 de novembro, data provável da morte de Zumbi e neste século Dia da Consciência Negra – é uma data a ser comemorada.

Num país que teve cerca de 400 anos de escravidão não é pouco comemorar um dia importante para nossa imensa e sofrida população negra. Para além da hipocrisia que cerca a nossa elite – tivemos cenas explícitas de preconceito na nossa recente campanha eleitoral – é importante comemorar. Comemorar, isto é importante, vem da expressão latina “co-memorare”, ou seja, lembrar junto. Temos que lembrar junto o que foi – e o que é – a saga de um povo arrancado de sua terra e tornado escravo. Escravo, também é bom lembrar, são pessoas tornadas não-pessoas, tornadas uma mera mercadoria. Coisa abjeta, degradante, sem justificativa ética ou moral.

Nós, brasileiros, temos uma grande divida com nossos irmãos negros. Por isso, temos que ter políticas afirmativas, que consigam dar conta desse débito. Sou a favor de cotas, de acessos, de permitir um acesso que a grande maioria dos negros jamais teve em nossa história.

Antonina foi uma cidade com larga população escrava. Temos diversos dados de antigos censos do tempo do império que confirmam isso. Houve até uma revolta escrava na Deitada-a-beira-do-mar, segundo uma historiadora que conheci. Os escravos se rebelaram porque os senhores proibiram o jongo, um tipo de festa rural muito comum entre os escravos brasileiros (Um destes tipos de “festa de umbigada” foi o Masemba ou Semba, que terminou por dar origem ao nosso samba do século XX). No antigo jongo está nosso gosto pelo samba, as raízes mais fundas de nosso afamado carnaval.

Fiquei muito feliz quando recebi um email da nossa Alfa, informando que a vereadora Margarete Pacheco vai ser homenageada, junto com outras pessoas ligadas ao movimento negro, num evento que comemora o Dia da consciência Negra. Margarete Pacheco, a quem não conheço pessoalmente, foi uma das mais importantes novidades das ultimas eleições capelistas. Ela é a prova de que Antonina muda. Não tão rapidamente como quer nosso querido Eduardo Bó, mas muda. Uma mulher, negra e sindicalista, lá dentro do prédio da Rua Valle Porto, é uma lufada de ar fresco num ambiente que andou – e ainda anda - muito carregado.

Vai lá, Margarete, ou “Marga da Associação”, como a chamam os bagrinhos, põe o seu melhor vestido, seu mais largo sorriso e vai lá receber sua homenagem. Você merece, e todos nós estamos muito orgulhosos. Bento Cego, nosso grande poeta, filho de escravos, faria uma bela trova pra comemorarmos juntos em nossa pequena baía o grande significado desse resgate histórico e social. Um novo tempo ainda vai chegar pra Antonina. O jongo está apenas começando.

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