quarta-feira, dezembro 22

COMO DEMOCRATIZAR A INFORMAÇÃO EM ANTONINA?

"A democratização das nossas sociedades se constrói a partir da democratização das informações, do conhecimento, das mídias, da formulação  e debate dos caminhos e dos processos de mudança." [ Betinho ]

Por: FortunatoMachado Filho(21/12/2010)

**"Disse Alexis de Tocqueville (1805-1859) que somente os jornais podiam depositar ao mesmo tempo, em milhões de mentes, as mesmas idéias. Daí que sua responsabilização formativa poderia ser autora tanto das virtudes públicas fundamentais ao processo civilizatório democrático, como ser uma perigosa arma de destruição da controvérsia saudável e do amor à cultura por parte de uma nação. Soren Kierkegaard (1813-1855) temia esta última possibilidade e dizia: os jornalistas não conhecem limites porque podem descer sempre mais baixo na escolha dos seus leitores.

No decênio de 1990, David Broder, importante colunista político americano, em uma série de artigos publicados no Washington Post, ao retomar o espírito que presidiu algumas reflexões do século 19 sobre a imprensa, afirmava que os jornalistas deveriam utilizá-la primordialmente para modificar e melhorar o debate público sobre a cidadania. Ainda apostava na força da palavra e dos argumentos como os melhores meios de exercitar as faculdades críticas dos cidadãos.

O mandamento primeiro do jornalista consistia em contribuir para a elevação moral dos homens, ajudando-os na formação de um juízo público esclarecido e responsável. Para tanto, pressupunha-se o pluralismo informativo e a capacidade de resistir às pressões dos interesses privados, voltados tão somente para o lucro e para a conquista de audiência e, por isso, incompatíveis com o direito democrático à informação devido à cidadania".(grifos meus)

Entre uma letra e outra eis que surge uma notícia. Estou falando da informação escrita publicada em papel (jornal tradicional) ou nas páginas (sites) virtuais da rede mundial de computadores, a fabulosa, mas, desconhecida (para muitos) a Internet; temida para outros, ferramenta indispensável para uns tantos e porta de liberdade para todos. Mas, e a notícia, o controle desta, a quem pertence? Resposta: pertence a quem se interessa por ela. Pertence àqueles que se sentem mais do que meras criaturas de engrossamento do índice populacional da comunidade em que mora. Sem dúvida que um bom número de pessoas amadureceu no decorrer dos anos e exige notícia de qualidade, no entanto, a maioria prefere continuar “novelado” pois se manter informado é exigir demais para quem já tem o dia para trabalhar e a noite para dormir, ou vice-versa.

“Fazer imprensa” no interior é difícil. Primeiro que, antes do veículo de comunicação servir de canal para levar a informação ao público, ele precisa se manter e sustentar economicamente quem o representa, ou seja, quem o faz existir. Daí, percebe-se que a notícia tem um custo como qualquer produto nas prateleiras seja em uma pequena mercearia ou em exposição no shopping center. Igualmente a quem produz os bens de consumo de primeira necessidade ou supérfluos, e recebem por esse trabalho de produção, quem também produz a comunicação tem o direito sagrado de ganhar pelo que produz. Cabe ao consumidor de informação regular a produção desta que pode ser de “primeira necessidade”, pagando por isso, ou deixar que a “notícia supérflua” ou até mesmo de qualidade inferior lhe chegue com porte pago por “interessados” que, em sua maioria, nada soma para o engrandecimento coletivo.

Para pagar a quem leva notícia, sobram as prefeituras, porém, a maior parte dos gestores não respeita o princípio de liberdade de expressão e, ao acordar com um veículo de comunicação para que veicule algum informativo da referida administração, fica subentendido que, a partir daquele instante o tal veículo fica impedido de explorar qualquer assunto que não seja “determinado” de forma oficial. Até alguns auxiliares da administração se acham no direito de “policiar” e interferir na linha editorial. A solução para que as comunidades possam ter em seu seio uma imprensa livre é pagar pela informação. O comércio deve respaldar o veículo de comunicação com as publicidades, isto se torna uma mão dupla pois acaba investindo no marketing da empresa. Por outro lado, não permite que o meio de comunicação fique a mercê do faturamento oficial que impossibilita de questionar mesmo construtivamente quem o está pagando.

Fora isso, as pessoas poderiam pagar o preço simbólico de R$ 1,00 pelo exemplar do jornal. Isto garantiria a sobrevivência do veículo e mostraria aos mandatários antidemocráticos que eles estão prefeitos e que não são perfeitos a ponto de administrem impecavelmente sem a ajuda crítica de um jornal, por exemplo. E por falar nisso, o administrador precisa colocar a sua mente para pensar e ver que o dinheiro que paga a determinado veículo de comunicação, é público, portando, deve divulgar os atos da administração, mas também deve ser a voz do povo para reclamar aquilo que não vai bem. Não se pode generalizar, mas, pelo menos aqui no litoral do Paraná, prefeitos/vereadores e auxiliares acreditam que ao terem contrato com o meio de comunicação, automaticamente, passa a ser “propriedade” destes e que podem determinar o que deve ou não ser publicado, sob pena de corte do pagamento. Fazem a chantagem pois sabem que o povo não pagará pela informação e que o veículo de comunicação precisa de referida verba para se manter... Chega ser macabro, mas é a realidade.

Diante destas circunstâncias só resta perguntar: fazer o quê? Se o direito democrático à informação continua intimamente ligado ao poder econômico. Manter uma imprensa livre sem algum grupo ou pessoa pagar, é quase impossível. Fazer existir uma imprensa atrelada, viciada ao molde feudal chega ser repugnante. O que pode vir a ser a luz no fim do túnel para a imprensa interiorana é o cultivo de uma pauta que explore as políticas públicas, despertando assim o interesse da comunidade que pode começar a valorizar a produção de informação, pagando por esta. Para os que detêm o cargo de mandatário maior nos municípios seria bom que refletissem sobre o direito democrático de bem informar, e que, vossas senhorias querendo ou não, de “biquinho” ou não, mesmo com as dificuldades a mídia alternativa existirá e continuará formando opinião. Começou a contagem regressiva: dos quatro anos, só lhes restam dois... RESPEITEM a pequena imprensa nas suas cidades, pois a “grande” nem sabe das suas existências.

** Walquiria Domingues Leão Rego é professora titular do Departamento de Sociologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

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