por: Jeff Picanço
Antes de mais
nada, um grande abraço a meu amigo Neutinho e aos demais bacucunautas,
a quem desejo um excelente 2012, cheio de realizações e, principalmente,
muita saúde. Estive um tempo sem escrever, por força de muitas obrigações
profissionais, e, também, de muita desorganização de minha parte.
De minha parte
comecei o ano por baixo. Estou no Rio Grande Do Sul, fazendo uma série
de levantamentos de campo. No entanto, aqui das campanhas gaúchas,
não pude deixar de acompanhar a polêmica do lixo que tivemos nesta
última semana nas terras de Valle Porto, inclusive com postagens muto
boas e explicativas do Neutinho falando sobre o problema, colocando
postagens do blog Antonina Viva. Pra quem, como eu, tem um blog chamado
“Urublues” (www.urublues1.blogspot.com) o assunto lixo não é de todo estranho.
Vamos lá.
Conheço muitos
lixões e muitos “aterros controlados” por ai. Conheço, entre outros,
o aterro sanitário de Córdoba, na Argentina, além de muitos outros
principalmente no Paraná e Santa Catarina. Não conheço o de Antonina,
mas conheço o de Morretes e o de Curitiba. Não é tarefa fácil, acreditem.
No aterro controlado de Ivaiporã, no Paraná, o lixo hospitalar, nos
anos 90 era colocado no mesmo lugar que o lixo comum, o que hoje é
inconcebível. Em Cruzeiro do Oeste, terra do hoje deputado Zeca Dirceu,
um prefeito, nos anos 90, instalou um “aterro controlado” ao lado
do restaurante de um desafeto, só de sacanagem.
No frigir dos
ovos da política, acaba que as comunidades que recebem um lixão (ou
um aterro controlado) são as comunidades mais pobres, carentes ou com
menos força política de impedir que sua vizinhança seja invadida
por tão abjeto material. Em Antonina, a comunidade de São João Feliz
(?), que convive com o lixão (ou aterro controlado) é uma comunidade
que infelizmente (sem trocadilho!) não teve força política para evitá-lo.
Porque lixo perto de casa ninguém quer.
Isso tudo porque
o lixo é um lixo. Ninguém quer o lixo por perto. Lixo é
aquilo que descartamos e que alguém, em geral de extração social
inferior, leva para o mais longe possível de nosso santificado lar.
Lixeiro não é profissão que desejemos para nossos filhos, por mais
santificado que seja seu trabalho no dia a dia de nossas cidades. Os
americanos, sempre pragmáticos, cunharam um termo para esta política
de empurra: NIMBY (Not-in-My-Back-Yard,
ou, em português, Não-No-Meu-Quintal). Ou seja, o lixo é um jogo
de empurra onde quem perde é sempre o mais fraco politicamente (ou
socialmente, o que dá na mesma).
No entanto,
o lixo é um problema de todos. Você, que ganha uma TV de LCD
e joga fora o papelão e os plásticos-bolha; você, que despeja os
lixos de seu almoço de domingo na lixeira da cozinha; você, que põe
na calcada os restos de sua poda de jardim: todos nós somos responsáveis
pelos cidadãos de São João Feliz. Segundo dados nacionais, o brasileiro
gera por dia cerca de 1 Kg de lixo por habitante. Nessa conta os bagrinhos
despejam no lixão (ou aterro controlado) de São João Feliz cerca
de 19 ton/dia de materiais que não querem mais. Num mês, seriam 570
ton/mês e 6.840 ton/ano de lixo gerado pelos bagrinhos. Imaginem o
tamanho do problema.
Acontece que
as prefeituras municipais, a partir dos anos 90, receberam a fatura
deste lixo, principalmente através da legislação ambiental. Em Antonina,
acompanho de longe, desde o governo Kleber, as etapas da implantação
do aterro controlado (para os críticos, lixão). Canduca em sua gestão
fez muitos progressos nessa área, e hoje, a situação do aterro controlado
(e não mais lixão) é substancialmente melhor que nos vinte anos anteriores.
Seria desonesto não reconhecer.
No entanto,
é a situação do copo meio cheio e meio vazio. A população
da cidade e principalmente a dos bairros mais ricos - a que produz mais
lixo – não quer saber da comunidade de São João Feliz. Quer é
jogar seu lixo o mais longe possível. Os recursos para administrar
este lixo, embora nunca tenham sido tão grandes, são ainda muito poucos.
O que era lixão hoje é melhor e mais bem cuidado que há vinte anos,
mas, é forçoso reconhecer, os resultados são ainda muito precários.
Existe um problema sério e existe uma comunidade que sofre com o problema.
Nestas circunstâncias, é fácil criticar. Difícil é apresentar uma
proposta política que envolva a geração e a destinação de nosso
lixo doméstico. Em ano eleitoral, não seria nada mal ver estes itens
como prioridades (reais!) dos futuros candidatos. Quem sabe?
É preciso
que se diga: todos nós somos responsáveis. Devemos gerar menos lixo.
Devemos separar e reciclar mais. Devemos ter políticas de destinação
de resíduos sólidos que sejam solução de problemas sociais. Isso
não depende de poder publico federal, estadual, municipal. É um problema
de cultura. Enquanto não mudarmos nossa cultura que privilegia somente
o consumo, o lixo que jogarmos fora sempre voltará à nossa porta,
de uma forma ou de outra. São João Feliz somos nós.
Obrigado meu grande amigo Jeffinho,
ResponderExcluirDesejo a você todo o sucesso do mundo, parece que foi ontem que você esteve aqui em casa tomando aquela estupidamente gelada... e batendo aquele papo sobre tudo em tão pouco tempo... neste nosso reencontro...
...mas bá guri, mais uma vez você escrevendo uma excelente crônica...
Valeu índio velho e se cuida aí nos pampas... rss
...estou lhe esperando no carnaval.
Um abraço.
Neutinho