Por: Jeff Picanço
Neste exato momento estou escrevendo
de São Miguel do Gostoso (RN), onde vim gostosamente curtir minhas
mui merecidas férias. Neste momento são oito da manhã, um vento sacode
as folhas dos coqueiros, um ou outro calanguinho aparece correndo na
calçada que já começa a ferver. Daqui da varanda da pousada posso
até ouvir o mar, e um ou outro som de cidade chega bem distante aos
ouvidos. Tudo muito chato.
Depois de quase quinze dias, é a primeira vez
que vejo a internet, abro e-mails e estas coisas mundanas. Já
estou com vontade de fechar tudo de novo e voltar pra praia. Pelo menos
soube que o Profeta do mangue deu com os jegues na agua, e a tal catástrofe
na avenida do Samba não aconteceu. Que catástrofe era essa, meu caro
profeta? Deus soprou em suas orelhas tão severo vaticínio? Em
pleno domingo de carnaval, na Marquês De Sapucaí da terra de Valle
Porto? Ora profeta, vá catar bacupari no mato!
Talvez o que o profeta possa realmente profetizar
é que o modelo de carnaval que temos está superado, uma
gilete velha no meio de tantos prestobarbas. Não sei quem é que cuida
e como cuida dos preparativos da festa de momo. Talvez o carnaval de
antonina seja uma coisa tão séria tão séria que deveria ser profissionalizada.
Alguém que em março já esteja com a cabeça em fevereiro do outro
ano, preocupado com patrocínio, verbas, iluminação, som e outros
quetais. O que vale pro Bloco do Beco do Mijo, ou seja, a improvisação
e o escracho, não vale pro melhor carnaval do Paraná. Cá entre nós,
até suruba tem que ser organizada!
Outra: o carnaval tem que ser bom pra todos: pro folião
da cidade, pro que vem de fora, pro comercio. Que se locupletem todos,
como diria o Stanislau Ponte Preta. Todo mundo tem que sair feliz, contando
pra todo mundo que o carnaval na terra dos bagrinhos é o melhor do
universo – mesmo que não seja. Existe muita gente que acha que Antonina
tem o melhor carnaval do mundo, assim como tem gente aqui em São Miguel
do Gostoso que acha que as praias daqui são as melhores do mundo. No
caso do Gostoso, elas são fantásticas e extraordinárias, mas se ficarem
usando sem cuidados com o meio ambiente, vão ficar mais feias que as
praias da Normandia depois do dia D. Sabendo usar não vai faltar, como
diria a propaganda.
Desta forma, temos e não temos o melhor carnaval
do mundo. Tudo passa pela organização, pela criatividade, pelo bom
uso dos recursos. É preciso que tudo seja planejado, até
mesmo o fim da festa. Na quarta feira de cinzas, em muitos carnavais,
o que restava na cidade, quando não chovia, era um baita fedor de mijo.
Achei interessante a ideia de uma fundação municipal
pra gerir a cultura, um dos maiores patrimônios que os bagrinhos tem
a oferecer para a Humanidade. Gerenciar as festas, alocar recursos,
e ter o tempo todo só pra isso, com gente que entenda do riscado. Acho
difícil de implementar, tem que ver se tem dinheiro pra isso, se tem
gente que tope organizar a coisa. O carnaval é uma festa mundana
e democrática, onde todos podem participar. Mas tem que ter dinheiro,
organização, regras e tudo o mais.
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