Por Jeff Picanço
Antoninense da gema, ele sempre resistiu ao tempo. Sempre apanhando, sempre levando sovas homéricas, ele segue sempre o mesmo. Principalmente seu caráter continua o mesmo: suave, casca um pouco grossa, delicioso. Bom de comer com manteiga quente. Claro, estamos falando do sovadinho, ou pãozinho sovado, a fina flor das padarias capelistas.
Alias, sempre tivemos boas padarias, faça chuva ou faça sol, tenho ou não Porto, aconteça ou não o Festival de Inverno, sempre tem pão bom em nossas padarias. Houve a legendária Padaria Carioca, bem em frente à casa de minha avó. Tem a padaria da família Bittencourt, do meu amigo Orlandinho. Têm outras, muitas outras boas padarias, que injustamente não cito aqui, pois cito de memória e com a memória do coração, sempre tão falha. Mas erro pouco: as padarias capelistas sempre foram farinha do mesmo bom saco.
Ainda não encontrei, nos lugares por onde andei neste Brasil afora, um pãozinho melhor que o sovadinho. Encontro volta e meia o nosso pão d´agua. Em Curitiba, estes pães são absolutamente horríveis, em quase todos os lugares que achei: pequenos, sem massa, sem gosto. Em Florianópolis, tem uns lugares onde se podem comprar bons pães d´água. Em Porto Alegre, onde é chamado massinha, o pão d´água é melhorzinho. Mas, como o de Antonina, digo sem nenhum ranço de bairrismo: não existe melhor.
O sovadinho, por outro lado, não tem comparação – ele é único. E bom. O sovadinho resiste desde os tempos em que comprávamos pão com sacolas de pano com um barbante na boca, igual aos que hoje se usam para guardar sacos plásticos velhos. Ele viu a sacola de plástico com o logotipo da padaria, viu os cartuchos de papel – os “cartuchos de pão”. Só recentemente vieram as abomináveis sacolas de plástico que usamos hoje.
Felizmente, a onda ecologicamente correta está trazendo de volta as velhas sacolas de pão. Sim, hoje o pão sovado quer ser levado pra casa com responsabilidade ambiental, tanto dos padeiros quanto dos consumidores. Temos uma severa responsabilidade com nosso lixo, com nossos resíduos, e o pão sovado quer fazer também parte destes novos tempos.
Confesso que tenho evitado comer pães de trigo, por serem absolutamente pesados e engordantes. Entro sempre, mesmo que compulsoriamente, nas dietas de minha namorada e nas dietas das mulheres de minha família. Melhor seriam os pães integrais, os pães de aveia, de centeio, os pães de não-sei-quantos-grãos. Cumpro as determinações de redução calórica com fervor. Afinal, trata-se de minha saúde e de minha qualidade de vida.
Quando vou a Antonina, não dá. Simplesmente não dá. Eu vou correndo ali no Orlandinho comprar uns sovados bem quentinhos para comer com manteiga. A dieta que espere.
O pão sovado de Antonina deveria entrar no mesmo rol da Bala de Banana, como defendi numa outra crônica: a dos produtos com marca registrada. Só, por favor, não aumentem o preço só por causa disso...
(dedico esta crônica a minhas queridas irmãs Kátya e Márcia, que me alertaram para a condição do pão sovado, um antoninense da gema que merece ser lembrado...)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
COMENTÁRIOS SOMENTE COM CONTAS NO GOOGLE