EU COMENTO...

Por Nerval Pedro Pires da Silva

Ao abrir ontem o Blog do Fábio Campana, me deparei com um comentário absolutamente incomum nos dias de hoje, e que deverasmente me chamou a atenção. Trata-se, todavia, de um desabafo intitulado “Espora de Nundhiá”. Não sei quem o escreveu, qual o significado que quis dar o autor ao inusitado título, não obstante, este comentarista aqui reconhecer a integral verossimilhança do seu conteúdo.

Seria muita pretensão de minha parte esperar que o desabafo deste autor desconhecido, seja o fruto do trabalho que venho desenvolvendo aqui nos blogs e jornais a mais de dois anos ininterruptos, correndo até o risco de represárias por parte dos brutos e das “otoridades” constituídas. Não me importo com isso, já estou exclamentado, já passei dias mais difíceis na época da ditadura militar, que tinha em minha pessoa, ainda bem jovem, o seu mais ardoroso adversário.

Às vezes chego a duvidar que eu esteja vivendo esse episódio aqui nesta terra que fora o berço de valorosos homens do passado – de um povo de heróicos brados retumbantes. Eu ainda testemunhei alguns desses resquícios de bravura, de amor, de desprendimento por esta terra horizontalmente cravada à beira mar. Que a partir daí, a ação deletéria da metamorfose transforma este povo num bando de covardes e indolentes - salvem-se raríssimas exceções.

Antonina padece hoje por conta do seu povo, que a largou nas mãos dos corruptos, dos incompetentes, e dos desprovidos de amor. Você não imagina meu amigo desconhecido, o quão eu estou sofrendo por dentro e por fora ao vê-la definhando dia-a-dia, sendo sugada nas mãos desses políticos inescrupulosos, e assistida com a maior passividade por esse povo sem brios, sem sangue nas veias e sem coração. Tenho gritado com todas as forças que disponho que deixem Antonina. Vão embora daqui que nós saberemos ministrar o remédio para restitui-lhe novamente a vida, a sua dignidade, a sua graça, sua beleza e seus encantos mil.

Esta cidade que fora a primeira do Paraná, fonte da economia do estado, que parira centenas de grandes vultos, nas mãos desses safados que a transformaram numa cidade de indigentes da periferia. Povo que assiste calado os seus prefeitos chamar a escória para comandar a maioria das secretarias e diretorias - é ser um povo muito rele, de baixa qualidade. Ou não quer nada com a cidade, preferindo mesmo que ela se dane, que se “exploda” - neste caso, então, resta-lhe aquele chavão muito usado pelos militares da ditadura: ou ame-a ou deixe-a!

O desabafo desse desconhecido leva a chancela da mais pura e cristalina realidade em que vivemos nos dias de hoje, a mercê deste povinho estúpido e egoísta que nem merecia existir. Falar mais do que ele já disse, é puro pleonasmo – é chover no molhado.
Entretanto, só espero agora, após uma leitura mais analítica e reflexiva do comentário deste desconhecido, por aqueles que ainda não estão contaminados pelo cancro – esse bichinho fétido que assolou a grande maioria da população capelista, que se unam as essas pouquíssimas vozes como as nossas, e venham também fazer coro para salvar o que ainda resta, antes que seja tarde de mais.
(Nerval Pedro é escritor e comentarista)