Por: Celso Nascimento
“A maior praga política é a complacência e a auto-complacência com a corrupção. Boa a reportagem da RPC. Pena que seja moralismo de ocasião.” De Requião, no inseparável Twitter, num surpreendente elogio de ocasião à RPC
Publicado em 19/03/2010 | celso@gazetadopovo.com.br
Ninguém discorda: são gravíssimas as denúncias da Gazeta do Povo e da RPC TV a respeito dos desvios financeiros e administrativos na Assembleia Legislativa. Mas, a bem da verdade, até os pastorinhos ajoelhados diante da imagem de Nossa Senhora da Salete, que dá nome à praça onde se situam os poderes do estado, sabiam que as coisas ali ao lado não iam bem há muito tempo. Aliás, por todos os lados que se olhe no Centro Cívico, já que não escapam o Executivo nem o Judiciário!
Reinava o silêncio – mais que obsequioso, cúmplice – de todos. Porque certamente a todos interessava que continuasse imperando a balbúrdia, a mixórdia e a maçaroca na Casa do Povo, assim chamada orgulhosamente pelos senhores deputados. O povo não merece essa Casa que dizem ser sua.
Nada mais foi feito até agora – graças a um meticuloso, responsável e cívico trabalho de reportagem – do que retirar o lacre que tampava o esgoto onde ainda se escondem gafanhotos e ratazanas, beneficiários do proposital descontrole que há décadas manda na Casa (!). A história brasileira não nos autoriza a imaginar que, enfim, se restaurará a moralidade na Assembleia. Com certeza, ela não se converterá num mosteiro. Mas já há o que se festejar – embora com a parcimônia e o comedimento devidos.
Um dos motivos de festejo é o afastamento “espontâneo”, ontem, do diretor-geral, Abib Miguel – o Bibinho, executivo eficiente de que, desde os tempos de seu padrinho, o todo-poderoso Anibal Khury, se serviam muitos deputados. Abrem-se, desta forma, as portas para que o Ministério Público exerça com liberdade a sua obrigação constitucional.
Festejem-se também as medidas tomadas pelo presidente Nelson Justus. Embora devesse ter sido objeto de suas preocupações e atos desde o primeiro dia de seu mandato como dirigente da Casa, há dois anos, recadastrar os servidores e cortar os salários dos que não comprovarem presença e trabalho já são providências elogiáveis. Tanto quanto tais medidas, a promessa de moralizar a publicação do diário da Assembleia é outra iniciativa – tardia, diga-se outra vez de passagem – mais do que inadiável.
Justus ganha a oportunidade de passar para a história como o político que contribuiu para melhorar a triste imagem da Casa e torná-la digna e merecedora de ser chamada do Povo. Que a aproveite bem – caso contrário será engolido pela mesma lama que afogou Bibinho.
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